Perdendo a ideia principal
O estado de consciência plena, também conhecido como meditação da mente alerta, significa aceitar e se envolver com os desafios da vida, sem negá-los ou revoltar-se contra eles.
Acontece que é justamente essa ideia central que muitos professores e cursos populares de atenção plena e de meditação estão deixando passar.
Ao analisar os conceitos mais populares da meditação de atenção plena, pesquisadores descobriram que a maioria dos interessados em se envolver com a prática está permitindo que a postura ativa que ela defende seja confundida com uma aceitação passiva do problema - um conceito equivocado que ignora um dos elementos principais da técnica que tem trazido tantos benefícios.
Tendo se originado na prática religiosa budista, o movimento da mente alerta se difundiu no Ocidente a partir de pesquisas clínicas que mostraram seu potencial para reduzir o estresse, mas logo se viu que seu efeito é muito mais amplo, o que tem levado alguns cientistas a defenderem que a meditação da atenção plena deveria ser ensinada nas escolas.
"A compreensão científica da atenção plena vai além do mero alívio do estresse e requer uma disposição para lidar com os estressores," explica o professor Igor Grossmann, da Universidade de Waterloo (Canadá). "É, de fato, o envolvimento com os estressores que, em última análise, resulta no alívio do estresse. Mais especificamente, a atenção plena inclui duas dimensões principais: consciência e aceitação."
Aceitação não é passividade
Grossmann e seus colegas compararam as afirmações dos críticos às interpretações populares da mente alerta para avaliar como as pessoas entendem e aplicam o conceito em suas vidas diárias.
Eles descobriram que, na prática, a maioria das pessoas confunde aceitação com passividade ou evitação.
A equipe conduziu então um amplo projeto empírico para examinar o significado da meditação da mente alerta em três partes: Análises do significado semântico do termo mente alerta, uma meta-análise dos resultados de uma medida de mente alerta amplamente usada, e testes empíricos de associação com marcadores de sabedoria e regulação eficaz das emoções.
"Embora tenhamos verificado que as pessoas pareçam compreender conceitualmente que atenção plena envolve engajamento, o público em geral não vem colocando essa noção em prática. Nossos resultados sugerem que os leigos podem entender o que é consciência, mas o próximo passo, da aceitação, pode não ser bem compreendido - limitando o potencial para envolver-se com os problemas," acrescentou a pesquisadora Ellen Choi, da Universidade Ryerson.
Usando as mídias sociais como um exemplo tópico, o professor Grossmann afirma que, com algoritmos dando apoio a um conteúdo de ódio cada vez maior, a capacidade de estar atento às perspectivas dos outros nunca foi tão crítica: "A atenção plena pode não fornecer uma resposta fácil para a divisão que nos cerca, mas uma compreensão precisa, que inclui a prática da aceitação, pode anunciar o ressurgimento de discussões sinceras e de conexões autênticas."
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