A leitura dinâmica é uma técnica usada para ler rapidamente, envolvendo a procura visual de pistas sobre o significado do texto, saltando palavras ou frases não essenciais.
De modo semelhante, os sistemas biológicos encontram-se por vezes "sob pressão" para lerem rapidamente a sua informação genética.
Os genes que precisam ser lidos mais rapidamente são geralmente pequenos, uma vez que quanto menor a mensagem codificada, mais fácil será a sua leitura rápida.
Agora, pesquisadores do Instituto Gulbenkian de Ciência e da Universidade do Algarve (Portugal) descobriram que, além de tamanho, a arquitetura do gene também é importante para a otimização do processo de leitura.
Íntrons
Nos estágios iniciais de desenvolvimento, as células dividem-se muito rapidamente, o que torna necessário ler os genes em alta velocidade, para produzir as proteínas necessárias ao crescimento.
Os genes contêm o código para a produção de proteínas, mas também têm sequências chamadas íntrons, que não são necessárias para este processo e precisam ser removidos antes da síntese das proteínas.
Leonardo Guilgur e seus colegas descobriram que a presença dos íntrons retarda o processo: os genes expressos em células que se dividem rapidamente precisam não só de ser curtos, mas também de não ter íntrons.
Estes resultados explicam por que a maioria dos genes expressos durante as primeiras fases de embriogênese não tem íntrons.
"O nosso trabalho mostra que os sistemas biológicos levaram a leitura dinâmica a um outro nível: além de eliminar palavras e frases não essenciais para tornar o texto mais curto, toda a sua organização foi alterada sendo principalmente sem parágrafos. A resposta da natureza para uma leitura rápida é simples e eficaz: genes curtos e altamente compactados com poucos ou sem íntrons", disse o professor Rui Martinho, orientador do trabalho.
Contra o câncer
Embora pareça um resultado muito teórico, as conclusões têm impacto direto em pesquisas importantes, como na luta contra o câncer.
"Recentemente foi demonstrado por outro grupo de investigação que a inibição da maquinaria que remove os íntrons tem uma potente atividade contra a maioria das linhas celulares de câncer, que são células em divisão rápida.
"Assim, aumentar o nosso conhecimento sobre o papel da remoção eficiente de íntrons durante o desenvolvimento não só contribui para a compreensão de um processo biológico fundamental, mas também oferece um novo terreno exploratório para desenvolver drogas anticancerígenas," explicou Leonardo Guilgur.
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