O cálculo de risco para o câncer de mama, tipicamente feito dividindo-se o número de casos da doença pela população feminina total, precisa mudar.
Isto porque estudos epidemiológicos - que estudam uma relação de causa e efeito, ou causa-doença - indicam que mulheres sem filhos apresentam cerca de quatro vezes mais risco de desenvolver câncer de mama na menopausa do que aquelas que se tornaram mães ainda jovens.
Pesquisadores brasileiros e norte-americanos lançaram agora algumas luzes sobre as transformações que ocorrem com as células mamárias durante a gravidez que as tornam menos suscetíveis ao surgimento de tumores.
Mudanças epigenéticas
As análises mostraram que nas amostras dos dois grupos de pacientes - mulheres sem filhos e mulheres com filhos - havia dois tipos diferentes de núcleo: um em que a cromatina estava mais frouxa e outro em que o material genético estava mais condensado.
"A cromatina é a estrutura que contém o DNA. Ela forma complexos com proteínas (entre elas, as histonas) e com diversos tipos de pequenos RNAs. Quando a célula entra em processo de divisão, a cromatina se compacta na forma de cromossomo", explica Maria Luiza Silveira Mello, da Unicamp.
"Nas amostras das mulheres que tiveram filhos, a quantidade de núcleos com a cromatina mais condensada foi muito maior. Isso sugere que houve uma modificação epigenética intensa nessas células e isso permaneceu até a menopausa", afirmou Mello.
As modificações epigenéticas correspondem a um conjunto de processos bioquímicos disparado por estímulos ambientais que moldam o funcionamento do genoma por meio da ativação ou desativação de genes.
Metaforicamente, é possível comparar o genoma ao hardware de um computador e o epigenoma ao software que faz a máquina funcionar.
Foram encontradas diferenças no padrão de expressão de 298 genes entre as mulheres que tiveram filhos e aquelas que nunca ficaram grávidas.
"Isso mostra que a gestação induziu uma reprogramação local e silenciou alguns genes que poderiam ser inadequados, como aqueles relacionados à proliferação celular", afirmou José Russo, do Fox Chase Cancer Center (EUA) e autor principal do trabalho.
Segundo Russo, essas alterações na expressão dos genes também modificaram a forma como as células produzem certas proteínas e processam o RNA mensageiro.
"A mama após a gravidez adquire uma assinatura genômica e um perfil fenotípico diferente. Acreditamos que são essas mudanças que fazem com que a mulher fique mais protegida contra o câncer", disse.
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