Autocorreção da ciência
Cerca de 10 anos atrás, vários laboratórios descobriram que um gene chamado MELK é sobre-expressado, ou ativado em alto grau, em muitos tipos de células cancerígenas.
Esse indício gerou manchetes em jornais do mundo inteiro e levou à realização de ensaios clínicos, vários deles ainda em andamento, para testar drogas que poderiam inibir o gene MELK e tratar o câncer em pacientes.
Agora, novas pesquisas revelaram que o MELK de fato não está envolvido com o câncer.
A discrepância com os resultados anteriores resulta de falhas nas técnicas científicas que foram usadas para vincular o MELK ao câncer.
"Nosso estudo é uma boa ilustração da natureza autocorretiva da ciência," afirmam Jason Sheltzer (Laboratório Cold Spring Harbor), Chris Giuliano e Ann Lin (Universidade Stony Brook).
Gene do câncer?
A equipe realizou análises genômicas em tumores removidos cirurgicamente de pacientes com câncer. O objetivo era identificar genes cujos níveis de atividade estivessem correlacionados com baixas taxas de sobrevivência do paciente. Os pesquisadores então usaram uma tecnologia chamada CRISPR para desativar os genes suspeitos em diferentes linhagens celulares de câncer, um de cada vez, para ver se eles poderiam matar as células cancerosas.
É aí que entra o gene MELK, que novamente apareceu como suspeito.
"Assim como outros laboratórios, constatamos que o MELK tendia a ser altamente expresso em pacientes que não sobreviveram muito tempo," contou Sheltzer. "Pensávamos que iríamos eliminar o MELK e mostrar que isso mataria as células cancerosas. Mas, para nossa grande surpresa, as células cancerosas não morreram. Elas simplesmente não se importaram."
A equipe então realizou várias experiências para garantir que a técnica CRISPR estava funcionando. "Nós eventualmente tivemos que concluir que nossa técnica estava perfeita," disse Sheltzer. "Em vez disso, eram os resultados anteriores sobre o papel do MELK no câncer que estavam incorretas."
Em outras palavras, o fato de um gene estar sobre-expresso em uma determinada situação não implica em que ele seja um causador daquela situação.
Relação questionada
A equipe sugere que algumas das técnicas usadas anteriormente são propensas a erros devido ao que os cientistas chamam de "efeitos fora do alvo". Uma dessas técnicas, chamada interferência de RNA, usa um mecanismo celular que controla a expressão gênica para desativar genes específicos.
"Você acha que está desativando um gene, mas, na realidade, essas técnicas não são muito específicas, então você também está atingindo uma série de outros genes diferentes. Acreditamos que este pode ser um problema comum.
"Pode haver outros genes como o MELK por aí, e queremos usar o CRISPR para identificar os melhores alvos possíveis para o desenvolvimento de medicamentos," disse o Dr. Sheltzer. Os resultados foram publicados na revista e-LIFE.
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