Que estamos vivendo cada vez mais é um dado inegável.
O problema é que alguns estudos têm concluído que as pessoas estão vivendo mais, mas passam mais anos doentes.
E então, será que a Medicina só está fazendo fazer-nos passar anos a mais correndo para os hospitais, tomando remédios cheios de efeitos colaterais e tentando evitar o inevitável?
Nada disso, estamos realmente vivendo mais e melhor. É o que defendem Mary Beth Landrum, Kaushik Ghosh e David Cutler, da Universidade de Harvard, nos EUA.
Morrer como uma lâmpada
"Há dois cenários básicos que as pessoas têm proposto sobre o fim da vida," explica o professor Cutler.
"O primeiro argumenta que o que a ciência médica está fazendo é fazer-nos funcionar como lâmpadas - ou seja, nós funcionamos bem até que, de repente, nós morremos. Isso também é chamado de retangularização da curva de vida, e propõe que nós teremos uma qualidade de vida muito alta até o fim.
"A outra ideia diz que a vida é uma série de tropeços, e a assistência médica simplesmente tem sido mais eficiente em nos livrar deles. Assim, podemos viver mais tempo porque temos evitado a morte, mas são anos em mau estado de saúde, e anos [financeiramente] muito caros - nós vamos ficar em cadeiras de rodas, indo e vindo dos hospitais e vivendo em lares para idosos," explica ele.
Os pesquisadores, por sua vez, têm tentado decidir qual desses dois modelos é mais preciso, mas os estudos têm produzido resultados conflitantes.
Distância da morte
O grupo de Harvard acredita que o desempate está sendo difícil porque as pesquisas estão olhando para o lado errado da vida das pessoas.
"A maioria das nossas pesquisas mede a saúde em idades diferentes, e então usa um modelo para estimar quanto tempo as pessoas ainda têm de vida. Mas a maneira certa de fazer isso é medir a saúde da morte para trás, e não para a frente. Devemos começar quando alguém morre, e então voltar um ano e medir a sua saúde, e então voltar dois anos, três anos, e assim por diante," propõe o pesquisador.
Parece impossível? Não é, porque os serviços de saúde fazem questionários rotineiros com os pacientes atendidos. Então, depois que alguém morre, basta analisar os questionários que a pessoa respondeu nos últimos anos.
Os três pesquisadores, então, reuniram questionários respondidos entre 1991 e 2009 por cerca de 90 mil pessoas, atendidos pelo Medicare, o sistema de seguro de saúde dos EUA.
A abordagem é tão eficiente que, a partir de cada questionário, os pesquisadores conseguem responder o quanto cada uma das pessoas está da morte, algumas vezes com precisão de dias.
E, mais importante, permite saber se as pessoas estão vivendo bem ou vivendo doentes.
Vivendo mais e melhor
O grupo se concentrou sobretudo em questões cruciais, como se as pessoas eram capazes de cuidar de si mesmas - cozinhar, limpar a casa, banhar-se, vestir-se, andar e cuidar do próprio dinheiro.
A conclusão não se fez esperar: assim como a expectativa de vida tem aumentado ao longo das últimas duas décadas, as pessoas têm-se tornado cada vez mais saudáveis nesses anos adicionais.
"Com a exceção de um ou dois anos antes da morte, as pessoas são mais saudáveis do que costumavam ser [no fim de suas vidas no passado]," garante Cutler.
"Efetivamente, o período de tempo que estamos vivendo com problemas de saúde está sendo comprimido até pouco antes do fim da vida. Assim, onde estávamos habituados a ver pessoas muito, muito doentes nos últimos seis ou sete anos de vida, agora isto é muito menos comum. As pessoas estão vivendo até idades mais avançadas, e estamos adicionando anos saudáveis, não anos debilitados," conclui o pesquisador.
Direito de morrer
Com notícias tão boas, talvez agora possamos lidar melhor com os últimos meses da vida.
Segundo alguns médicos, está havendo uma espécie de "obsessão terapêutica", na qual o sistema de saúde não aprendeu ainda a reconhecer que chegou a hora de o paciente morrer.
Isto, segundo os especialistas, tem levado a cuidados sem qualquer esperança de cura, sobrecarga emocional e financeira para as famílias, e tirando das pessoas o direito de morrer naturalmente.
Ainda, contrariamente ao proposto por esta nova abordagem, um levantamento global feito em 2012 mostrou que, para morbidades como a obesidade, de fato os anos vividos a mais não podem ser comemorados:
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