Palavras que ferem
As pessoas condenam o discurso de ódio com mais severidade do que a discriminação não-verbal que tenha a mesma intenção e mesmas consequências.
Ataques verbais contra grupos marginalizados podem causar sérios danos às vítimas. No entanto, muitos casos de discurso de ódio nunca são denunciados e nem chegam à justiça.
"Nós vemos isso nos esportes, nas ruas, nas escolas e em nossos parlamentos," diz a professora Jimena Zapata, da Universidade Ludwig-Maximilians de Munique (Alemanha), acrescentando que a grande proporção de incidentes de discurso de ódio não relatados é extremamente preocupante.
Para descobrir as possíveis razões disso, Zapata e sua colega Ophelia Deroy estavam investigando como as pessoas reagem a diferentes formas de discriminação. Elas fizeram isto comparando como voluntários percebem e avaliam crimes de ódio em que o ódio é expresso de forma verbal ou não verbal.
Discurso pior que ação
Os resultados surpreenderam: Ao contrário da expectativa original, os experimentos mostraram que os participantes julgaram os incidentes verbais de ódio como mais dignos de punição e condenação e mais prejudiciais à vítima do que os ataques físicos.
"A literatura previa que as ações seriam julgadas com mais severidade do que as palavras. Mas o oposto parece ser o caso," disse Deroy. "Os ataques físicos obviamente causam danos diretos e visíveis. Você vê o hematoma se alguém me bate no rosto porque eu pertenço a um determinado grupo. Mas se alguém gritar que eu não pertenço a este lugar, você pode não ver o dano, mas ele está lá - e pode até durar mais."
As ações não-verbais apresentadas aos participantes do estudo incluíam cuspir na frente de alguém ou ir sentar-se demonstrativamente em outro lugar no metrô, por exemplo. O efeito sobre os espectadores permaneceu mesmo nos casos em que as próprias vítimas não perceberam a ação cheia de ódio.
"Nossas descobertas mostram que, dadas consequências idênticas, o discurso de ódio é percebido como pior do que um ato físico motivado pelo ódio," disse Deroy.
Contra grupos e contra a sociedade
As duas pesquisadoras explicam que o fato de as palavras serem consideradas mais repreensíveis do que as ações apontam para um fenômeno conhecido como "aversão à ação", segundo o qual as pessoas sentem uma aversão fundamental a certas ações independentemente de suas consequências - neste caso, fazer uma declaração odiosa em público.
Além disso, as formulações verbais de ódio são mais explícitas e, portanto, mais difíceis de reformular.
Outro fator é que as palavras discriminatórias não atingem apenas a vítima individualmente: "O discurso de ódio não se dirige exclusivamente a uma pessoa específica: Dirige-se ao indivíduo como membro de um determinado grupo," explicou Zapata. "Ele viola o princípio da igualdade da dignidade humana e dos direitos humanos e afeta a vítima imediata, espectadores, outros membros do grupo coletivo visado e toda a sociedade."
Mesmo que as próprias vítimas não ouçam as palavras, observam as duas pesquisadoras, essas palavras de ódio e discriminação ainda podem causar danos a espectadores aleatórios.
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