Menos de 50% de eficácia
Mais da metade das pessoas que tomam antidepressivos durante os tratamentos para depressão nunca obtêm qualquer resultado desses medicamentos.
Por que? Porque as causas da depressão têm sido excessivamente simplificadas e os medicamentos desenvolvidos para tratá-la estão focados no alvo errado, de acordo com uma nova pesquisa feita na Universidade Northwestern (EUA).
Segundo os pesquisadores, os antidepressivos atuais são como flechas tentando acertar os anéis externos de um alvo, e não o seu centro.
Nem estresse e nem neurotransmissores
O trabalho, apresentado pela Dra. Eva Redei, parece derrubar duas "crenças" fortemente estabelecidas na comunidade científica sobre a depressão.
Uma delas é a de que os eventos estressantes da vida são uma das principais causas da depressão. A outra é que um desequilíbrio nos neurotransmissores no cérebro desencadeia sintomas depressivos.
Os dois resultados são significativos porque essas "crenças" formam a base fundamental sobre a qual foram desenvolvidos os medicamentos atualmente usados para tratar a depressão. O que agora é chamado de crença, até então era tido como evidência científica, que comprovaria a eficiência dos tratamentos atuais.
Estresse não causa depressão
A Dra. Eva e seus colegas encontraram fortes evidências moleculares que destroem o dogma de que o estresse é a principal causa da depressão. A nova pesquisa revela que não há quase nenhuma sobreposição entre os genes relacionados ao estresse e os genes relacionados à depressão.
"Este é um estudo gigantesco e estatisticamente muito forte," disse ela. "Esta pesquisa abre novas rotas para o desenvolvimento de novos antidepressivos que poderão ser mais eficazes. Não surgiu nenhum antidepressivo baseado em algum conceito novo nos últimos 20 anos."
Os pesquisadores usaram uma tecnologia chamado microarray para isolar e identificar os genes específicos da depressão em animais de laboratório preparados para replicar várias anormalidades comportamentais e fisiológicas encontradas em pacientes com depressão grave. Depois de décadas de desenvolvimento, os cientistas afirmam que estes são os ratos mais deprimidos do mundo.
De um total de 30.000 genes no microarray, os pesquisadores descobriram aproximadamente 254 genes relacionados ao estresse e 1.275 genes relacionados com a depressão, com uma coincidência de apenas 5 genes entre os dois grupos.
"Esta sobreposição é insignificante, uma porcentagem muito pequena," diz a pesquisadora. "Esta descoberta é uma evidência clara que, ao menos nos modelos animais, o estresse crônico não causa as mesmas alterações moleculares que a depressão causa."
Antidepressivos tratam o estresse e não a depressão
A maioria dos modelos animais usados pelos cientistas para testar os antidepressivos é feita com base na hipótese de que o estresse causa a depressão.
"Eles estressam os animais e acompanham seu comportamento," diz a Dra. Eve. "Então eles manipulam o comportamento dos animais com drogas e dizem, 'Ok, estas funcionarão bem como antidepressivos.' Mas eles não estão tratando a depressão, eles estão tratando o estresse."
Esta é uma das principais razões pelas quais os antidepressivos não estão dando resultados, segundo ela.
A pesquisa agora está iniciando uma nova pesquisa para encontrar os genes que diferem entre os animais com depressão, a fim de limitar os alvos para o desenvolvimento de novos medicamentos.
Antidepressivos focam o efeito e não a causa
Segundo o estudo, outra razão pela qual os antidepressivos atuais são frequentemente ineficazes é que eles são projetados para reforçar os neurotransmissores com base na explicação molecular tradicionais da depressão, que afirma que a depressão é o resultado de baixos níveis dos neurotransmissores serotonina, norepinefrina e dopamina.
Mas isto está errado, diz a Dra. Eve. Os eventos bioquímicos que resultam na depressão começam na verdade no desenvolvimento e no funcionamento dos neurônios, numa etapa posterior na cadeia de eventos do cérebro.
O experimento não mostrou diferenças significativas nos níveis de genes controlando as funções dos neurotransmissores. "Se a depressão estivesse relacionada com a atividade dos neurotransmissores, nós teríamos visto isto," diz ela.
"Os medicamentos antidepressivos estão focando o efeito, e não a causa," diz ela. "É por isto que leva tanto tempo para que eles apresentem resultados e porque eles não dão resultado nenhum para a maioria das pessoas."
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