27/02/2018

Descoberto papel essencial das plaquetas no sistema imunológico

Redação do Diário da Saúde
Descoberto papel essencial das plaquetas no sistema imunológico
A descoberta vai permitir melhorar as transfusões, mas também complica um pouco o trabalho para criar plaquetas sintéticas e sangue artificial .[Imagem: Peter Allen]

Equipe de emergência

As plaquetas desempenham um papel muito mais importante no nosso sistema imunológico do que se pensava anteriormente.

Além do seu papel tradicional na coagulação do sangue e cicatrização dos ferimentos, as plaquetas atuam como atendentes de primeira linha do sistema imunológico quando um vírus, bactéria ou alérgeno entra na corrente sanguínea - elas são as primeiras a chegar lá, como se fossem as equipes de emergência dos bombeiros ou do SAMU, cumprindo um papel que até agora se acreditava ser dos glóbulos brancos.

Esta descoberta é importante porque abre as portas para novas formas de tratar pacientes em uma variedade de situações, como choques sépticos causados por infecções virais ou bacterianas e pessoas com doenças autoimunes, como artrite reumatoide e lúpus.

Plaquetas como primeira defesa

Quando um corpo estranho entra no sangue pela primeira vez, ele induz a formação de anticorpos, explica o professor Eric Boilard, da Universidade Laval (Canadá). Na próxima vez que formos novamente atacados pelo mesmo corpo estranho, estes anticorpos rapidamente se aglomeram na superfície do invasor, formando complexos antígeno-anticorpo que desencadeiam uma resposta inflamatória de defesa.

As plaquetas têm receptores que reconhecem esses complexos, e isso levou o professor Boilard e sua equipe a suspeitarem que as plaquetas poderiam estar de alguma forma envolvidas no processo inflamatório. Para testar suas hipóteses, eles criaram complexos antígeno-anticorpo no sangue de camundongos usando um vírus, uma toxina bacteriana e uma proteína alergênica.

Os resultados foram similares nos três casos: Os camundongos apresentaram sintomas clássicos de choque séptico ou anafilático, como queda na temperatura corporal, tremores, insuficiência cardíaca, vasodilatação e perda de consciência.

"Nós repetimos os testes em camundongos com quase todas as plaquetas removidas e em camundongos sem receptores complexos de antígeno-anticorpo em suas plaquetas. Esses animais não apresentaram resposta fisiológica, o que demonstra claramente o papel chave das plaquetas no processo. As plaquetas, e não os glóbulos brancos do sangue, são as primeiras a chegar à cena durante uma resposta imune," destacou Boilard.

Serotonina e transfusão

Indo a fundo nos resultados, os pesquisadores constataram que os camundongos entraram em choque porque suas plaquetas liberaram serotonina. "É a mesma molécula neurotransmissora do cérebro, mas a molécula nas plaquetas é produzida por células no intestino. As plaquetas armazenam serotonina - elas contêm 90% do suprimento inteiro de serotonina do corpo - e liberam-na em determinadas situações," explicou o pesquisador.

Uma das implicações clínicas dessa descoberta é que a transfusão de plaquetas para pacientes em choque séptico ou anafilático pode de fato agravar sua condição ao aumentar a quantidade de serotonina no sangue. "A transfusão continua a ser importante, especialmente porque esses pacientes geralmente apresentam níveis baixos de plaquetas, mas, a fim de evitar o problema, os receptores do complexo antígeno-anticorpo nas plaquetas devem ser bloqueados antes da transfusão," destacou Boilard.

A equipe agora está pesquisando o papel do receptor do complexo antígeno-anticorpo em doenças autoimunes, como artrite e lúpus. "Acreditamos que, bloqueando o receptor, poderemos ser capazes de melhorar a condição do paciente sem afetar tudo o mais que as plaquetas fazem," vislumbra o pesquisador.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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