14/07/2008

Jovens usam salas de bate-papo apenas para diversão e conhecimento superficial

Leandra Rajczuk - Agência USP

Sem contato face-a-face

Uma pesquisa realizada com 128 jovens, sendo 61,7% mulheres, com média de 17 anos, revelou que apenas 20% dos participantes buscava estender as relações que estabeleciam com desconhecidos via Internet para contextos presenciais.

"Os jovens não se mostraram muito dispostos a realizarem revelações pessoais a desconhecidos na rede, e diferentemente de outros públicos usuários da Internet, não usavam a rede para tentar estabelecer contatos face-a-face", explica a psicóloga Ana Cristina Garcia Dias, autora do levantamento O uso das salas de bate-papo na Internet: um estudo exploratório acerca das motivações, hábitos e atitudes dos adolescentes. Neste estudo, o uso das salas de bate-papo foi predominantemente associado à diversão e ao conhecimento superficial de pessoas".

Usuários pouco assíduos

Cerca de 83% dos jovens eram estudantes de segundos e terceiros anos do ensino médio de uma escola particular da Grande São Paulo. O restante eram alunos de primeiro ano do curso de Psicologia de uma universidade particular. A amostra não foi constituída por usuários assíduos às salas de bate-papo: 62,5% dos participantes indicaram utilizar as salas menos de uma vez por semana. Os questionários, com questões abertas e fechadas, foram aplicados em sala de aula coletivamente, em horário disponibilizado pelos professores das instituições contatadas.

Revelação de si mesmo

"Contrariamente ao esperado, não foram observadas diferenças de gênero importantes no que se refere à revelação de si. Ambos os sexos não se mostraram dispostos a revelar aspectos mais pessoais na rede", ressalta Ana Cristina. "Os resultados sugerem que os adolescentes encaram as relações na Internet a partir de uma perspectiva mais lúdica que os adultos, o que os leva a não se comprometerem em tais relações e, talvez, não criarem muitas expectativas em relação aos parceiros e às próprias possibilidades da comunicação via Internet".

Ambos os sexos não se mostraram dispostos a revelar aspectos mais pessoais na rede

Temas de interesse dos jovens

De acordo com a pesquisadora, os jovens demonstraram interesse em se divertir e passar seu tempo, possivelmente conversando com outros acerca de suas preferências e interesses, além de assuntos gerais como política, esporte e profissões. "Os jovens não parecem considerar estes temas como pertencentes a sua esfera íntima", pondera Ana Cristina. "Nesta amostra, observamos que para manter uma relação pessoalmente significativa na rede, é necessário que a pessoa se sinta confortável para revelar seus aspectos íntimos, o que só acontece quando existe confiança".

Adolescentes são criteriosos nas suas escolhas virtuais

A psicóloga explica que os jovens buscam pistas em suas conversas estabelecidas na rede a fim de avaliar a confiabilidade do interlocutor, especialmente a coerência do discurso. "As relações são estabelecidas principalmente em termos de fatores de identificação, ou seja, os adolescentes são criteriosos nas suas escolhas virtuais", pondera Ana Cristina. "O cumprimento de normas de interação estabelecidas pelos grupos formados na rede e a apresentação de um discurso coerente, sem contradições, são fatores que promovem a confiança entre os usuários que usam as salas de bate-papo".

Ana Cristina avalia que a comunicação via Internet vem trazendo algumas mudanças no modo como os jovens estabelecem contatos com outras pessoas, mas não parece que esse recurso esteja revolucionando a forma como os adolescentes buscam construir relações de intimidade. "É um fenômeno complexo que envolve aspectos psicológicos, sociológicos, lingüísticos, antropológicos e tecnológicos, e que precisa ser estudado de diferentes perspectivas, acompanhando os avanços que vêm ocorrendo no âmbito da comunicação virtual".

A pesquisa

Ana Cristina Garcia Dias doutorou-se em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia (IP) da USP. Atualmente leciona na Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Publicada na revista científica Interação em Psicologia, em 2006, a pesquisa sobre as salas de bate-papo é um desdobramento de sua tese de doutorado, intitulada "Revelação de si na Internet: um estudo com adolescentes", que foi orientada pelo professor Yves Jean Joel Rodolphe de La Taille, do IP, em 2003.

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

URL:  http://diariodasaude.com.br/print.php?article=jovens-usam-salas-de-bate-papo-apenas-para-diversao-e-conhecimento-superficial

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