07/04/2008

Gerenciar cedo os conflitos em sala de aula melhora aprendizagem

Agência USP

Conflitos em sala de aula

Uma proposta para melhorar a convivência e reduzir conflitos em sala de aula, colocada em prática na 1ª série do ensino fundamental de uma escola municipal em Ribeirão Preto (interior de São Paulo), aumentou a capacidade das crianças em enfrentar o estresse. A metodologia, aplicada pela pedagoga Dâmaris Simon Camelo Borges, também ampliou a percepção de que os colegas se tornaram mais solidários, o que colaborou com o processo de ensino e aprendizagem.

Participaram da pesquisa 116 crianças, divididas em quatro grupos, dois no mestrado e dois no doutorado da pedagoga, defendido na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP.

Solução de problemas interpessoais

No estudo, foi feita a sondagem de habilidades de solução de problemas interpessoais, registro de conflitos em um diário de campo, observação do comportamento em sala de aula, um inventário de fontes de estresse escolar e um indicador de desempenho pró-social.

No mestrado, defendido em outra instituição, Dâmaris aplicou um programa de intervenção denominado EPRP (Eu Posso Resolver Problemas), desenvolvido pela pesquisadora norte-americana Myrna Shure. O EPRP oferece abordagem prática, por meio de jogos, brincadeiras e histórias para ajudar as crianças a refletirem sobre problemas interpessoais e lidar com eles. "Na aplicação do EPRP durante o conflito, não interessa o que aconteceu, mas como as crianças percebem o que de fato aconteceu", explica a pedagoga.

Habilidade no comportamento

"Ao final do ano, as crianças apresentaram um comportamento habilidoso, mas essa mudança não foi para a sala como um todo e não se manteve após a interrupção das férias de julho". No doutorado, Dâmaris acrescentou dois componentes na proposta de intervenção - um módulo de iniciação aos valores humanos e outro de autocontrole.

As crianças que utilizaram multicomponentes ampliaram suas habilidades de solução de problemas interpessoais, diminuíram a participação em conflitos, reduziram comportamentos incompatíveis com as atividades escolares e melhoraram o desempenho pró-social. "Também aumentou o raciocínio anti-social, mas mesmo pensando em levar vantagem, no bater e no tomar, o comportamento melhorou, pois pensam em todas as possibilidades", completa a pesquisadora.

Soluções existem

A pesquisa deixou claro que as soluções para os conflitos em salas de aula não são simples, mas existem, e cada um tem sua parcela de responsabilidade nesse processo, inclusive às crianças. "Para que elas consigam desenvolver habilidades sociais, ou seja, comportamento que favoreça o relacionamento, é necessário uma intervenção que trabalhe também valores humanos e autocontrole desde muito cedo, uma vez que a formação do senso moral acontece dos 4 aos 9 anos de idade", diz a pedagoga.

Valores humanos

Para trabalhar valores humanos a pesquisadora recorreu à literatura. Foram mais de 30 obras, entre elas, Romeu e Julieta, onde foram discutidos preconceito - aceitação das diferenças - e cooperação. Na questão do autocontrole, além de incentivar o relaxamento após o intervalo, quando as crianças voltam para a sala de aula mais eufóricas, a pesquisadora trabalhou também com literatura.

"O objetivo das aulas práticas é fazer com que a criança desenvolva sua própria habilidade, assim ela pensa e reflete nas possíveis conseqüências de seus atos e consegue lidar melhor com seus impulsos", conta Dâmaris. "Chegamos ao final do ano com menos conflitos, eles aumentaram a gama de possibilidades para resolvê-los, e ainda ficaram mais centrados nas atividades em sala de aula".

Pedindo ajuda

Outro aspecto avaliado pela pesquisadora foi o comportamento das crianças em relação à busca por ajuda. "É comum elas pedirem ajuda para aqueles que, na percepção delas, sabem mais e não para aqueles que são mais solidários", explica. "Avaliei esse aspecto em duas situações, no pátio e durante as tarefas. No final do ano, todas haviam ampliado a gama de amigos para ajudá-las".

 

Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br

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