06/02/2023 Crianças e adultos vivenciam o tempo e sua duração de modos diferentesRedação do Diário da Saúde
Pesquisadores investigaram se a percepção do tempo muda com a idade e, em caso afirmativo, como e por que percebemos a passagem do tempo de maneira diferente.[Imagem: Nádasdy Zoltán]
O tempo passa mais devagar na infância? O tempo parece ter seus truques, frequentemente iludindo nossas lembranças e nossas previsões. Muitos de nós experimentamos a ilusão de que aquelas longas férias durante a infância pareciam muito mais longas do que os mesmos 30 dias agora como adultos. Pesquisadores da Hungria se propuseram a mensurar esse efeito. Para isso, Sandra Stojic e colegas da Universidade Eotvos Loránd mediram como eventos afetam as estimativas de duração em três faixas etárias: 4-5, 9-10 e 18 anos ou mais. O experimento envolvia dois vídeos extraídos de uma série de animação, balanceados em recursos visuais e acústicos, exceto por uma característica: O ritmo dos acontecimentos. Um dos vídeos consistia em uma rápida sucessão de eventos (um policial resgatando animais e prendendo um ladrão), e o outro era uma sequência monótona e repetitiva (seis prisioneiros sombrios fugindo em um barco a remo). Os dois clipes foram reproduzidos em uma ordem equilibrada de 50%, começando pelo mais agitado. Depois de assistir aos dois vídeos, os voluntários respondiam a apenas duas perguntas: "Qual deles era mais longo?" e "Você pode mostrar as durações com seus braços?" - são perguntas fáceis de entender, mesmo para uma criança de 4 anos. Os resultados mostraram uma tendência muito clara em cada faixa etária - a surpresa foi que, nas crianças em idade pré-escolar, a tendência está exatamente na direção oposta que nos jovens e adultos. Outros experimentos propõem que o tempo fica entre a realidade e nossas expectativas. [Imagem: Sandra Stojic et al. - 10.1038/s41598-023-27419-4] Quando o tempo fica mais longo Enquanto mais de 2/3 dos alunos do jardim de infância perceberam o vídeo agitado como mais longo, 3/4 do grupo de adultos sentiu que o vídeo monótono era mais longo. O grupo de idades intermediárias expressou esse mesmo viés, mas mais moderado do que o adulto. Tomando os três grupos de modo geral, o ponto de inflexão, quando o vídeo mais monótono passa a ser considerado mais longo, está por volta dos 7 anos. O outro teste envolvia a distância da abertura do braço para expressar o tempo - sempre houve interesse dos cientistas em descobrir a relação entre tempo e espaço: "Em que direção está o futuro?", por exemplo. Nesse experimento, houve uma tendência crescente de usar a abertura horizontal do braço conforme aumentava a idade: Enquanto as crianças em idade pré-escolar usavam 50-50% de gestos verticais e horizontais, na idade escolar essa proporção mudou para 80-90% em favor de expressões de braço horizontais. Esses resultados são inesperados porque nenhum dos modelos científicos de percepção do tempo conseguiu prevê-lo. Os modelos biológicos de percepção do tempo se enquadram em duas categorias: neurônios semelhantes a marcapassos no cérebro e neurônios que exibem uma taxa de disparo decrescente com o tempo. Ainda assim, "quem" interpretaria esses sinais no cérebro é algo que os cientistas não sabem responder. Ambas as classes de modelo assumem um "aprimoramento" contínuo das avaliações com a idade. No entanto, não foi isso que os pesquisadores constataram. Em vez disso, o que eles descobriram foi um ponto de inflexão muito claro por volta dos sete anos de idade. Enigma do tempo A equipe sugere mudar para os modelos heurísticos, introduzidos na ciência cognitiva por Amos Tversky e Daniel Kahneman, mas isso não os livra do problema da inflexão radical da avaliação por volta dos sete anos de idade. Embora o enigma do tempo tenha intrigado e continue a intrigar a mente humana, é essencial perceber que esses conceitos fundamentais, como tempo e espaço, são mais complexos do que podemos definir por certos tipos de neurônios no cérebro. Para discutir esses conceitos abstratos, é preciso conectar todas as peças biológicas e cognitivas. Será que algum dia completaremos esse quebra-cabeça? Só o tempo irá dizer. Fonte: Diário da Saúde - www.diariodasaude.com.br URL: http://diariodasaude.com.br/print.php?article=criancas-adultos-vivenciam-tempo-diferente A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos. |