17/01/2018

Vírus zika pode combater tumor cerebral

Com informações da Agência Fapesp
Vírus zika pode combater tumor cerebral
A ciência ainda não tem todas as informações sobre como o vírus zika age no corpo: Por exemplo, uma vacina experimental protegeu contra zika, mas aumentou a gravidade da dengue. A imagem mostra um corte transversal do vírus zika (núcleo em amarelo).
[Imagem: Wikimedia Commons]

Zika do bem

O vírus zika, temido por causar microcefalia em bebês cujas mães foram infectadas durante a gestação, por um processo ainda não totalmente compreendido pela ciência, também poderá vir a desempenhar um papel benéfico ao ser humano no futuro.

O vírus zika pode ser alterado geneticamente para atacar as células tumorais do glioblastoma, o tipo mais comum e mais agressivo de tumor cerebral.

A constatação foi feita por uma equipe chefiada pelo professor Rodrigo Ramos Catharino, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

Vírus oncolítico

Pesquisadores no Brasil e no exterior já haviam constatado que células progenitoras neurais humanas (hNPCs) infectadas pelo vírus zika apresentam taxas aumentadas de mortalidade, juntamente com comprometimento do crescimento e anormalidades morfológicas.

As alterações nessas células - que são precursoras de células cerebrais e se transformam no córtex em embriões e fetos - podem ser uma possível causa de microcefalia em bebês cujas mães foram infectadas pelo zika. Outros estudos sinalizaram que o vírus é capaz de se deslocar para células cerebrais, modificar a regulação do ciclo e induzi-las à morte.

Com base nessas observações, os pesquisadores da Unicamp decidiram analisar o que o vírus zika causaria ao infectar células de glioblastoma.

Os resultados das análises indicaram que as células de glioblastoma apresentaram efeitos citopáticos leves 24 horas após a infecção, como células redondas e inchadas, além da formação de sincícios - células multinucleadas, em que a membrana celular engloba vários núcleos. Os efeitos citopáticos mais severos foram observados 48 horas após a infecção, em que se constatou maior quantidade de células redondas e inchadas, formação de sincícios e perda pronunciada de integridade celular, que é um prenúncio da morte celular.

As análises indicaram que, 24 horas após a infecção, as células começaram a produzir glicosídeos cardíacos, especialmente a digoxina, já conhecida por diminuir a taxa de multiplicação e aumentar a morte de células de melanoma - o tipo mais agressivo de câncer de pele -, de mama e neuroblastoma.

Desarmar o zika

Com base nessas constatações, os pesquisadores sugerem que o zika possa ser geneticamente modificado com o intuito de eliminar os efeitos da infecção que ele normalmente causa e deixar apenas as partículas virais responsáveis pela síntese da digoxina. Dessa forma, o vírus poderia ser uma alternativa para o tratamento do glioblastoma, que apresenta alta resistência a quimioterápicos.

"O uso de vírus oncolíticos [modificados geneticamente por engenharia genética para destruir células tumorais] está bastante avançado, principalmente para o tratamento de câncer de pele e mieloma [câncer de medula óssea]. O zika pode ser um candidato para o tratamento de glioblastoma," disse o professor Catharino.

Antes disso, porém, deverão ser desenvolvidos estudos para garantir que o zika seja completamente "desarmado" de seus efeitos naturais, de forma a poder ser inserido no organismo dos pacientes sem causar os danos já conhecidos. Um grupo da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, também está trabalhando no uso do zika contra tumor cerebral.

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