15/04/2011

Sal híbrido trata malária sem efeitos colaterais

Alexandre Matos
Sal híbrido trata malária sem efeitos colaterais
Atualmente, a Farmanguinhos produz o ASMQ, formulação em dose fixa combinada de artesunato e mefloquina, medicamento mais indicado pela OMS para o tratamento da malária.
[Imagem: Fiocruz]

Mefas

O Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) está desenvolvendo um produto inovador para combater a malária.

O sal híbrido Mefas é um insumo farmacêutico ativo (IFA) resultante da combinação de duas substâncias: artesunato e mefloquina.

O novo fármaco representa uma evolução no tratamento da doença que mais mata no mundo. O estudo tem a colaboração do Laboratório de Malária da Fiocruz Minas.

Tratamento da malária sem efeitos colaterais

Atualmente, a Farmanguinhos produz o ASMQ, formulação em dose fixa combinada de artesunato e mefloquina, medicamento mais indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o tratamento da malária.

Apesar da comprovada eficácia do ASMQ, o paciente não está livre de efeitos colaterais. Para aliviar esses possíveis desconfortos, pesquisadores da área de síntese orgânica do instituto, liderados pela pesquisadora Núbia Boechat, trabalham no novo sal híbrido.

Estudos têm mostrado que o Mefas é mais eficaz contra a malária do que os medicamentos artesunato e mefloquina, tanto usados separadamente quanto sob a forma do ASMQ. Além disso, segundo Núbia, o Mefas causa menos efeitos colaterais, pois o sal híbrido não apresentou toxicidade mesmo quando utilizado em dose 100 vezes superior à necessária.

Outra vantagem é que o Mefas consegue curar a malária com metade da dose do ASMQ, de acordo com testes feitos em animais. "Espera-se também que haja uma redução no custo de desenvolvimento e produção do medicamento, tendo em vista que as dificuldades técnicas poderão ser minimizadas pela utilização de apenas um IFA, o que não ocorre no ASMQ, no qual são utilizados dois IFAs", explica a coordenadora.

Já começou a ser realizado em animais o estudo comparativo da biodisponibilidade, teste que avalia o grau de absorção da substância pelo organismo e, consequentemente, sua disponibilidade no local de ação. Segundo Núbia, a meta agora é encontrar um parceiro - empresa farmacêutica ou entidade financiadora internacional - que viabilize a realização dos estudos finais para se chegar ao produto registrado. Após essa etapa, o fármaco será disponibilizado à população por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) e a outros países endêmicos, tal como hoje se faz com o ASMQ.

Doença dos trópicos

A malária é uma doença transmitida pela picada da fêmea do mosquito Anopheles, infectada por Plasmodium. Estudos da Iniciativa Medicamentos para Doenças Negligenciadas (DNDi) mostram que a malária é a doença que mais mata no mundo. Atinge, principalmente, países pobres da América Latina, da África e do sudeste asiático.

O baixo poder econômico das populações dessas áreas é responsável pelo desinteresse da indústria farmacêutica em investir em novos fármacos, dificultando o acesso a tratamentos adequados e eficazes.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, só em 2009, foram mais de 300 mil casos de malária confirmados no Brasil. Os números ainda impressionam, mas as estatísticas já foram muito piores. Com a introdução do ASMQ, houve uma redução de quase 50% de casos nos últimos anos.

Com o apoio do DNDi, Farmanguinhos deu um passo importante no desenvolvimento do ASMQ. Cada embalagem contém dois comprimidos, num esquema simples e prático. O ASMQ é o primeiro medicamento de combinação em dose fixa com prazo de validade de três anos, o que facilita a distribuição nos centros de saúde rurais.

Após sua introdução em municípios da Região Norte do país, o número de pacientes caiu quase 70% em um ano. Registrou-se, ainda, uma queda superior a 60% nas hospitalizações por malária no mesmo período. A expectativa é que o Mefas seja mais um passo para a eliminação da doença.

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