04/05/2016

Riscos associados ao Zika são maiores do que se pensava

Com informações da BBC
Riscos associados ao Zika são maiores do que se pensava
Os Minicérebros estão entre as principais ferramentas à disposição dos cientistas que tentam criar uma vacina contra o vírus zika.
[Imagem: Equipe Lab IDOR]

O vírus zika pode ser mais perigoso do que o pensado anteriormente, segundo cientistas brasileiros que estão monitorando a epidemia desde o seu surgimento.

Isto porque o vírus pode estar por trás de ainda mais danos às funções neurológicas do apenas a microcefalia, e afetar os bebês de até um quinto das mulheres infectadas.

Apesar de as taxas de avanço do contágio terem diminuído em algumas partes do país, graças a mais informações sobre prevenção, a busca por uma vacina está ainda no estágio inicial. Além disso, o zika continua a se espalhar pelo continente.

Problemas cerebrais detectados

O que médicos brasileiros têm constatado em bebês de mães que tiveram zika é que muitos danos cerebrais não são tão óbvios quanto a microcefalia. São más-formações que até podem não ter o mesmo impacto no desenvolvimento da criança, mas que estão ocorrendo com uma frequência alarmante.

"Há calcificações no cérebro, um aumento no número das dilatações nos ventrículos cerebrais e a destruição ou má-formação da parte posterior do cérebro", afirma Renato Sá, obstetra que trabalha em hospitais públicos e privados do Rio de Janeiro.

Ele lista uma série de problemas que vem encontrando com uma crescente regularidade: ventriculomegalia (aumento dos ventrículos cerebrais), danos à fossa posterior do crânio, craniossinostose (fechamento prematuro das suturas craniais, fazendo com que a cabeça se desenvolva da maneira errada) e calcificação cerebral.

O médico inclui uma preocupação adicional: geralmente não há um vestígio óbvio ou sintoma do dano neurológico até as checagens mais tardias do desenvolvimento do bebê, apenas "talvez convulsões ou outros sinais indicadores".

Riscos de anormalidades

Embora estimativas (obtidas a partir de um estudo na Polinésia Francesa) apontem que 1% das mulheres infectadas durante a gravidez terão bebês com microcefalia, alguns dos principais cientistas envolvidos nas investigações sobre a doença no Brasil estimam que até 20% das gestações afetadas podem resultar em vários outros tipos de danos ao cérebro.

Um estudo publicado pelo periódico New England Journal of Medicine aponta que "29% dos exames mostraram anormalidades em bebês no útero, incluindo restrições ao crescimento, em mulheres infectadas pelo zika".

"Nossas descobertas são preocupantes, pois 29% dos ultrassons mostraram anormalidades, incluindo restrições ao crescimento intrauterino e morte do feto, em mulheres com resultados positivos para infecção pelo zika", diz a pesquisa.

Minicérebros

Como é virtualmente impossível estudar os fetos em desenvolvimento, pesquisadores do Instituto D'Or, no Rio de Janeiro, estão usando células-tronco para criar tecidos que se desenvolvem como o cérebro humano. Chamados de "minicérebros", esses tecidos são depois infectados com o vírus zika.

"Há algo no zika que o torna mais inclinado a matar células cerebrais em desenvolvimento. Agora nós precisamos pesquisar e entender o que faz esse vírus ser mais agressivo para o cérebro em desenvolvimento," diz o neurocientista Stevens Rehen, um dos responsáveis pela pesquisa.

A equipe está espantada com o que já descobriu: uma grande redução do crescimento do córtex, a camada externa do cérebro.

"Os efeitos são muito impressionantes", afirma a pesquisadora Patricia Garcez. "Estamos todos atônitos com a rapidez. Vimos células morrerem em três dias, um número grande delas. Em seis dias, as neuroesferas (conjunto de células-tronco cerebrais) haviam morrido completamente."

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