27/06/2013

Cientistas aprimoram remédios contra doenças negligenciadas

Com informações da Agência USP

Uma iniciativa mundial nascida de uma parceria internacional que reúne cientistas, indústria e representantes governamentais, pretende combater de forma mais eficaz as doenças negligenciadas.

São as chamadas "doenças dos pobres" porque, ao afetarem populações de baixa renda, com pouco potencial para pagar pelos tratamentos, são pouco interessantes para as indústrias farmacêuticas, já que praticamente não dão lucro.

É nesse nicho que pretende atuar o grupo denominado M3MD (Molecules, Materials and Medicines for Neglected Diseases), que conta com o trabalho de pesquisadores de várias partes do mundo, incluindo Índia, África do Sul, Argentina, Irlanda, Estados Unidos, México, Canadá e Brasil.

Os cientistas brasileiros paricipantes do M3MD são: Alejandro Ayala (Universidade Federal do Ceará), Chung Man Chin (Universidade Estadual Paulista), e Javier Ellena (Instituto de Física de São Carlos).

Melhorar os remédios

O objetivo do grupo M3MD é transformar os medicamentos destinados às doenças negligenciadas existentes no mercado e transformá-los em versões melhoradas, com propriedades farmacocinéticas reforçadas, tendo em vista o bem-estar dos pacientes - anulando os efeitos colaterais - e a eventual solução dos seus problemas de saúde.

Este trabalho de engenharia de novas fórmulas sólidas de fármacos, embora complexo do ponto de vista laboratorial, consiste numa ideia simples.

Para combater qualquer doença, o primeiro passo é "desenhar" um fármaco que mostre eficácia no combate a esse alvo. Outro passo importante é transformar esse "desenho" - que não é mais do que uma molécula - em um fármaco que, principalmente no caso das doenças negligenciadas (Malária, Doença de Chagas, etc.), seja majoritariamente apresentado na forma de sólido, um comprimido, por exemplo.

Ou seja, não basta tratar a doença, mas é necessário fazê-lo com medicamentos sólidos - se esses medicamentos fossem injetáveis, isto traria problemas relacionadas com armazenamento, aplicabilidade e segurança, todos problemas muito sérios em áreas muito pobres.

Um dos grandes problemas dos fármacos sólidos é que eles não se dissolvem tão bem no corpo dos pacientes, impedindo a interação do medicamento com o organismo.

"O que estamos fazendo é trabalhar para minimizar ou anular as dificuldades de solubilidade desses medicamentos no organismo e neutralizar os efeitos colaterais nos pacientes. Estamos fazendo a aplicação da tecnologia do estado sólido às indústrias farmacêuticas", descreve o professor Javier Ellena.

Primeiros resultados

O desenvolvimento do trabalho do grupo M3MD tem sido rápido e eficaz.

"Neste momento, temos um medicamento contra a AIDS, completamente desenvolvido por nós, cuja patente está sendo tramitada no Instituto Nacional de Patentes-INPA", conta o pesquisador.

"É um medicamento que se apresenta cinco vezes mais eficaz do que aquele que está no mercado. Ou seja, é possível produzir o mesmo comprimido com cinco vezes menos matéria-prima e com uma eficácia largamente superior, com melhor absorção pelo organismo, neutralizando efeitos colaterais e fazendo com que o paciente ingira menos quantidades de químicos fármacos", garante Javier.

Outro exemplo é o Mebendazol, medicamento bastante utilizado para o controle de parasitas no organismo humano e que é consumido principalmente em zonas pobres, onde os índices de higiene e de salubridade pública são baixos. Nosso medicamento, que está esperando ser patenteado será várias vezes mais eficaz", explica Javier Ellena.

O M3MD também atua no combate à Doença de Chagas.

Uma das iniciativas do grupo é promover, ainda este ano, entre os meses de Novembro e Dezembro, um encontro com as indústrias farmacêuticas nacionais, explicando todo este trabalho e seus resultados, dando inclusive ênfase à questão de segurança nacional, já que as matérias-primas e a maioria dos medicamentos comercializados no Brasil vêm do exterior, com graves problemas na área do controle de qualidade.

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