17/02/2009

Projeto TOC vai pesquisar causas e tratamentos para o transtorno obsessivo-compulsivo

Valéria Dias - Agência USP
Projeto TOC vai pesquisar causas e tratamentos para o transtorno obsessivo-compulsivo

[Imagem: Agência USP]

Compreendendo o TOC

Pesquisadores da USP estão desenvolvendo vários estudos que visam compreender em profundidade o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) a fim de oferecer tratamentos mais eficientes para a doença.

O grupo, ligado ao Instituto de Psiquiatria (IPq), além de realizar a triagem de portadores da doença, também busca voluntários saudáveis para participar de seus projetos de pesquisa.

"Para entender melhor o TOC, precisamos estudar pessoas sem transtornos psiquiátricos", afirma a médica Roseli Gedanke Shavitt, uma das integrantes do Projeto Transtornos do Espectro Obsessivo Compulsivo (ProTOC).

O que é transtorno obsessivo-compulsivo?

De acordo com a psiquiatra, o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) é caracterizado por pensamentos, medos ou preocupações repetitivos, que invadem a consciência da pessoa de maneira incontrolável, com conteúdos variáveis, como, por exemplo, o medo de provocar algum dano a alguém, a preocupação com contaminação, dúvidas persistentes sobre atos corriqueiros, entre outros.

Esses pensamentos costumam gerar muita ansiedade e desconforto. "Para aliviar essa ansiedade, os portadores realizam comportamentos repetitivos como limpar, arrumar, repetir, perguntar, guardar objetos inúteis, etc."

Em busca das causas do TOC

O ProTOC abarca aproximadamente 40 projetos de pesquisas que visam descobrir as condições genéticas e ambientais que favorecem o surgimento da doença, as diferentes formas de manifestação dos sintomas - já que se trata de um transtorno muito heterogêneo -; os fatores associados com a resposta aos tratamentos convencionais, e as alternativas para os casos resistentes e refratários - que não apresentaram melhora com nenhum dos tratamentos disponíveis e têm sintomas incapacitantes.

O ProTOC tem a coordenação do professor Eurípedes Constantino Miguel, do IPq, e envolve aproximadamente 40 pesquisadores diretamente comprometidos com os estudos do projeto temático atual.

TOC em crianças

Um dos exemplos é o TOC de início precoce (que ocorre antes dos 10 anos de idade): suas características genéticas e padrão de resposta aos tratamentos parecem ser diferentes daquele que se inicia após os 20 anos.

"Outra linha de pesquisa envolve um tipo de TOC que parece estar associado à febre reumática, doença originada a partir de uma infecção pela bactéria estreptococo que pode afetar as articulações, o coração e o sistema nervoso.

Se houver envolvimento dos gânglios da base do cérebro - região por onde passam circuitos associados aos sintomas do TOC - podemos ter sintomas obsessivo-compulsivos desencadeados pela infecção estreptocócica", explica Roseli.

Causas genéticas e ambientais

A médica conta que, como parte do projeto temático, o ProTOC realiza estudos genético-epidemiológicos e genético-moleculares, para investigar genes que parecem conferir uma vulnerabilidade maior de desenvolvimento da doença.

Segundo ela, além dos fatores genéticos também é preciso levar em conta os fatores ambientais, como é o caso da febre reumática, em que a pessoa precisa ter sido exposta a uma bactéria. "Não basta apenas ter sido exposto à bactéria ou ter um determinado gene para apresentar o TOC. Existe uma complementaridade entre esses fatores", destaca. As condições de parto e de gestação também podem influenciar a ocorrência da doença.

Cérebros e animais

Outra vertente dos estudos genéticos é a pesquisa em cérebros post-mortem de pessoas com e sem TOC. Há técnicas que permitem estudar os chamados genes candidatos - ligados ao transtorno obsessivo-compulsivo - e como eles se expressam. O ProTOC desenvolve ainda pesquisas com modelos animais, em camundongos geneticamente manipulados.

Em outra linha de pesquisa, os portadores são estudados do ponto de vista das imagens cerebrais (neuroimagem), obtidas por meio de exames de ressonância magnética funcional (que mostram o cérebro em funcionamento, consumindo energia) e de ressonância magnética estrutural (que mostram as estruturas deste órgão). Outra técnica adotada é a espectroscopia por emissão de pósitrons, em que os pesquisadores analisam a concentração do transportador do neurotransmissor dopamina, tanto antes como depois do tratamento, realizado com antidepressivos em conjunto com terapia cognitiva comportamental.

Antidepressivos

Roseli conta que os pacientes que não respondem bem ao tratamento medicamentoso convencional (com os antidepressivos mais usados para o TOC, que atuam sobre a transmissão de serotonina), são encaminhados para o uso de outros antidepressivos, como a clomipramina, ou de antipsicóticos de última geração, como a quetiapina. "Estamos realizando um estudo fármaco-genético, comparando o perfil genético de pacientes que apresentam boa resposta ao tratamento, com aqueles que não respondem."

Radiocirurgia

Já os pacientes refratários são convidados a participar de um estudo de radiocirurgia. "Raios gama são direcionados para uma minúscula área dos gânglios de base, visando interromper o circuito que se acredita ser responsável pela manifestação dos sintomas. Este é um estudo duplo cego, pioneiro no mundo: nem o médico nem o paciente saberão quem, de fato, estará recebendo a radiação."

"Em quase 10 anos de trabalho, contamos com dados de cerca de 850 pessoas", destaca a pesquisadora. "A partir dos resultados de todas essas pesquisas, vamos montar um grande banco de dados com informações clínicas, genéticas, neurobiológicas, de neuroimagem e resposta ao tratamento relativas a essa grande amostra de pacientes."

Pessoas que sofrem de transtorno obsessivo-compulsivo podem entrar em contato com o ProTOC pelo telefone (11) 3069-6072 e agendar uma entrevista. Este mesmo número deverá ser usado pelos voluntários saudáveis que desejem colaborar com as pesquisas.

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