10/06/2010

Problemas medicalizados já consomem mais recursos do que o câncer

Redação do Diário da Saúde

Medicalização

Menopausa. Gravidez normal. Grau de concentração. Infertilidade. Disfunção erétil.

Ao longo das últimas décadas, essas e muitas outras condições ou características passaram a ser definidas e tratadas como problemas de saúde.

Elas foram "medicalizadas" - transformadas em problemas que exigem a consulta a um médico ou especialista e, na maioria das vezes, tornam-se alvo de medicações.

No primeiro estudo a abordar diretamente este problema, publicado na última edição da revista médica Social Science and Medicine, cientistas utilizaram dados nacionais - dos Estados Unidos - para estimar quanto a medicalização custa ao sistema nacional de saúde.

Condições medicalizadas

Peter Conrad e Thomas Mackie avaliaram 12 condições que definidas como tendo sido medicalizadas por entidades e associações de médicos.

As outras condições consideradas no estudo foram ansiedade e transtornos comportamentais, imagem corporal, calvície masculina, tristeza normal, obesidade, distúrbios do sono e transtornos relacionados ao consumo de substâncias.

Outras condições citadas como tendo sido medicalizadas, algumas não incluídas no estudo, incluem o uso de álcool e drogas por moradores de rua, a obesidade e até os partos.

Gastos com a medicalização

A forte tendência para a medicalização crescente das condições humanas é largamente aceita na comunidade científica, com um número crescente de diagnósticos médicos e tratamentos prescritos para problemas comportamentais e eventos da vida normal.

Conrad e seus colegas analisaram os gastos públicos com esses transtornos, incluindo pagamentos a hospitais, farmácias, médicos e outros prestadores de serviços de saúde.

Os dados mostram que essas situações e comportamentos promovidos a doenças representaram gastos de US$ 77,1 bilhões no ano de 2005 - 3,9% do total das despesas do governo com a área da saúde.

"Nós gastamos mais com essas condições medicalizadas do que com o câncer, com as doenças cardíacas, ou os prontos-socorros," disse Conrad. "Embora a medicalização provavelmente não explique sozinha a disparada dos custos com os cuidados de saúde, 77 bilhões de dólares representa uma soma substancial."

Causas da medicalização

Embora o estudo não avalie se a medicalização é boa ou ruim para a saúde e para a sociedade, ele demonstra a necessidade de compreender o impacto social e econômico da crescente medicalização.

Conrad explica que alguns pesquisadores atribuíram a medicalização ao crescimento da jurisdição profissional da medicina, ao aumento da demanda dos consumidores por soluções médicas e à ação da indústria farmacêutica buscando a expansão dos mercados para suas drogas.

"Ao calcular o montante gasto com os problemas humanos medicalizados, nós levantamos a questão óbvia de saber se esta despesa é 'adequada'," disse Conrad.

"A próxima pergunta é se podemos avaliar mais diretamente a adequação dessas intervenções médicas e estudar políticas que reduzam o crescimento ou mesmo reduzam o montante das despesas de algumas condições medicalizadas," conclui o estudioso.

Siga o Diário da Saúde no Google News

Ver mais notícias sobre os temas:

Saúde Pública

Terapias Alternativas

Medicamentos Naturais

Ver todos os temas >>   

A informação disponível neste site é estritamente jornalística, não substituindo o parecer médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde e aos seus tratamentos e medicamentos.
Copyright 2006-2024 www.diariodasaude.com.br. Todos os direitos reservados para os respectivos detentores das marcas. Reprodução proibida.