08/01/2015

Labirintite pode ser disparada por ansiedade ou medo

Com informações da Agência Fapesp
Labirintite pode ser disparada por ansiedade ou medo
Exames de ressonância magnética funcional indicam haver uma diferença fisiológica no cérebro dos pacientes com labirintite resistente ao tratamento.
[Imagem: Ag.Fapesp]

A labirintite - a perda no controle do equilíbrio - pode estar ligada a emoções como a ansiedade e o medo.

Foi o que descobriu uma equipe internacional liderada pela Dra. Roseli Saraiva Bittar, da Faculdade de Medicina da USP.

Labirintite resistente ao tratamento

O equilíbrio, que permite aos humanos caminhar em terra firme ou enfrentar o mar revolto sobre uma prancha de surfe, depende de pequenas estruturas existentes no ouvido interno conhecidas como vestíbulo. Junto com a cóclea - estrutura responsável pela audição -, o vestíbulo forma o labirinto.

Uma série de doenças que prejudicam a função labiríntica, algumas popularmente conhecidas como labirintite, pode interferir no controle do equilíbrio e causar sintomas como tontura, que costumam ser controlados entre 1 e 3 meses com o tratamento adequado.

Em alguns pacientes, porém, a tontura persiste mesmo após a doença labiríntica de base ter sido compensada e sem qualquer outro motivo aparente. É nesses pacientes que emoções como ansiedade e medo parecem entrar em ação.

"Exames de ressonância magnética funcional indicam haver uma diferença fisiológica no cérebro desses pacientes. Embora as estruturas cerebrais sejam idênticas às do grupo controle, as vias relacionadas com ansiedade e medo ficam mais ativas que o normal quando submetidas a determinados estímulos", conta a Dra. Roseli.

Nesses casos, classificados como tontura postural e perceptual persistente (TPPP), a doença labiríntica funciona como um gatilho para um distúrbio do equilíbrio impossível de ser diagnosticado e tratado pelos métodos convencionais.

"Depois que esse gatilho é acionado, a doença entra em moto-contínuo. Qualquer estímulo, seja motor, emocional ou situacional, pode ativar as vias de ansiedade e medo e causar tontura. Esse paciente sente-se tonto quando está em pé, sentado ou deitado. Sente que está flutuando ou que vai cair. Nunca está bem e não melhora sem um tratamento psiquiátrico específico", disse Roseli.

Tratamento eficaz

A pesquisa ainda está em andamento, e a equipe está agora comparando mais detalhadamente os exames de ressonância magnética funcional de portadores de TPPP com os de pacientes que se curaram da labirintite após o tratamento para descobrir o que exatamente funciona de forma diferente no cérebro.

Um dos estudos já concluídos, que incluiu uma mostra de 81 voluntários (ambos os sexos) revelou que os portadores de TPPP apresentam um perfil considerado limítrofe para ansiedade e depressão.

"Embora eles não possam ser considerados doentes psiquiátricos, são muito mais sensíveis do que os pacientes do grupo controle. Apresentam um escore até seis vezes mais alto nos questionários," contou Roseli.

Outros experimentos mostraram que, mesmo em situações tranquilas do cotidiano, as mulheres com labirintite resistente ao tratamento apresentam um nível de tensão muscular exagerado.

"Andam sobre o solo como se estivessem caminhando sobre uma viga estreita de salto alto. Mas reagem da mesma forma que o grupo controle em uma situação de real perigo de queda", disse a pesquisadora.

Embora ainda preliminares, os resultados da pesquisa já estão, segundo Roseli, promovendo uma importante mudança no tratamento de TPPP.

"O grande mérito foi promover a integração das áreas de otoneurologia e psiquiatria. Antes, nenhuma das duas especialidades sabia ao certo qual encaminhamento dar a esses casos. Os pacientes eram muitas vezes tratados com antidepressivos, mas apenas metade respondia. Hoje, posso dizer que mais de 90% de meus pacientes estão bem," disse Roseli.

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