22/03/2016

Idade compromete sistema imune e reduz eficácia de vacinas

Com informações da Agência Fapesp

Envelhecimento e imunidade

Os idosos da cidade de São Paulo apresentam praticamente as mesmas alterações no sistema imunológico observadas entre os idosos do Japão e dos países europeus, líderes mundiais de longevidade.

Pesquisadores brasileiros queriam confirmar indícios anteriores que apontam que a Propionibacterium acnes (P.acnes), a bactéria causadora da acne, poderia ser utilizada para estimular o sistema imune de idosos, tornando-se assim, em condições controladas, um adjuvante para vacinas ou outras terapias.

"Ativamos essas culturas com fito-hemaglutinina, um mitógeno [indutor de mitose ou divisão celular] bem conhecido na literatura, e as estimulamos também com P.acnes, para saber se, após o estímulo, as células de idosos apresentavam respostas semelhantes às das células de pessoas mais jovens", prosseguiu a pesquisadora.

A primeira constatação foi que, embora o perfil imunológico da nossa população seja muito heterogêneo, o padrão celular de envelhecimento em São Paulo é muito semelhante àquele descrito no Japão e nos países europeus.

Imunossenescência

Quando se consideram os valores médios, aqui também os idosos têm diminuídas suas taxas de proliferação celular e de produção de citocinas [moléculas envolvidas na comunicação entre as células durante o desencadeamento das respostas imunes]. Isso significa que o sistema imunológico desses indivíduos apresenta menor capacidade de responder aos antígenos [proteínas capazes de desencadear a resposta imune] presentes nas vacinas ou em novas infecções.

"Quando vacinamos alguém, esperamos que as células circulantes do sistema imune sejam capazes de responder aos antígenos. Isto é, que proliferem e produzam citocinas e anticorpos para combater essas proteínas estranhas. Ao fazê-lo, as células mudam seu fenótipo, transformando-se de células naives [inexperientes] em células efetoras [experientes], ficando, depois, armazenadas no organismo como células de memória. Nos idosos, porém, esse mecanismo apresenta-se parcialmente modificado," explicou a professora Valquíria Bueno, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Esse processo, chamado "imunossenescência", caracteriza-se pela diminuição da porcentagem de células "inexperientes", capazes de reconhecer e responder a antígenos novos, e pelo aumento da porcentagem de células de memória que não são capazes de responder a patógenos diferentes daqueles contra os quais já se especializaram.

Isso ajuda a explicar porque a resposta do organismo dos idosos a vacinas, novas infecções e tumores torna-se menos eficaz.

Alteração no esquema de vacinação

"Um achado importante do nosso estudo foi que a tendência à imunossenescência é mais acentuada em homens do que em mulheres da mesma faixa etária. Os homens tendem a acumular mais células de memória e a apresentar maior redução de células naives, além de menor produção de citocinas. Esse achado sugere que, para indivíduos idosos, as terapias talvez tenham que ser utilizadas de forma diferente de acordo com o 'gênero'", afirmou a pesquisadora.

Infelizmente, o uso da P.acnes não se mostrou tão animador: "Verificamos que a P.acnes aumentou discretamente a proliferação de linfócitos B [produtores de anticorpos]. Mas o mesmo não ocorreu em relação aos linfócitos T [produtores de citocinas e estimuladores de outras células]," disse Valquíria. "Eu acredito que seja preciso haver células dendríticas [apresentadoras de antígenos] intermediando o processo para que o antígeno presente na bactéria inativada possa ter o efeito adjuvante desejado. Então, para um aumento da resposta vacinal, além da P.acnes, a vacina precisaria conter também células dendríticas."

A constatação da ineficácia da vacinação contra a gripe tem levado a alterações no esquema vacinal em alguns países. Enquanto há uma verdadeira polêmica sobre a vacina contra a gripe na Suíça, o Japão está avaliando a substituição da dose única anual de vacina contra influenza por duas ou três doses menores. Na Espanha, a rede pública só vacina os idosos quando estes se encontram hospitalizados.

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