04/12/2017

Gosto musical é alterado por estimulação cerebral

Redação do Diário da Saúde
Gosto musical é alterado por estimulação cerebral
A ligação do cérebro com a música é maior do que se pensa: o cérebro toca sua própria música, possuindo algo parecido com "estações de rádio", com várias frequências.
[Imagem: Ernest Mas-Herrero et al. - 10.1038/s41562-017-0241-z]

Cérebro e música

O gosto pela música pode não ser um elemento individual que nasce conosco, ou que trazemos em nosso espírito.

Experimentos de neurociência acabam de demonstrar que é possível aumentar ou diminuir o quanto gostamos de uma música e o nosso desejo de ouvir mais daquele estilo musical.

Os teóricos da música têm defendido que, embora o gosto musical seja relativo, nosso prazer pela música - seja clássica ou heavy metal - surge, entre outros aspectos, de características estruturais da música, como padrões de cordas ou ritmos que geram antecipação e expectativa. Sendo assim, seria preciso mexer com a música para influenciar o gosto pessoal.

Na prática, porém, todos sabemos que uma música que entusiasma alguns pode ser extremamente irritante para outros.

Um grupo de três neurocientistas do Instituto Neurológico de Montreal e da Universidade McGill (Canadá) queria saber o que o cérebro tem a ver com esse nosso espírito musical - independentemente da música. Para isso, eles usaram uma tecnologia não invasiva para mexer com determinados circuitos cerebrais de voluntários, escolhidos por apresentarem diferentes gostos musicais.

Sintonizando o cérebro

Para modular o funcionamento dos circuitos cerebrais, a equipe usou a técnica de estimulação magnética transcraniana (EMT), que usa pulsos magnéticos para estimular ou inibir partes selecionadas do cérebro. Nesse caso, a EMT foi aplicada sobre o córtex pré-frontal dorsolateral esquerdo. Estudos de imagem cerebral mostraram que a estimulação sobre essa região modula o funcionamento dos circuitos fronto-estriatais, levando à produção de dopamina, um neurotransmissor chave no processamento de recompensas.

Em três sessões separadas, os voluntários receberam tratamentos excitatórios, inibitórios ou inertes. Após a estimulação, os participantes ouviam sua música favorita, bem como uma seleção de músicas escolhidas pelos pesquisadores.

Os resultados mostraram que, em comparação com a sessão de controle, as medidas psicofisiológicas de emoção e a motivação dos participantes para ouvir mais música foram acentuadas pela EMT excitatória, e todas igualmente atenuadas pela EMT inibitória.

Em termos mais simples, dá para amplificar ou reduzir o gosto das pessoas por cada tipo de música, mesmo das músicas preferidas pelas pessoas.

Aplicações clínicas

"Mostrar que o prazer e o valor da música podem ser alterados pela aplicação da EMT não é apenas uma demonstração importante e notável de que os circuitos por trás dessas respostas complexas agora estão sendo melhor compreendidos, mas também possuem possíveis aplicações clínicas," disse o professor Robert Zatorre, coordenador da equipe.

"Muitos distúrbios psicológicos, como o vício, a obesidade e depressão envolvem uma má regulação dos circuitos de recompensa. Demonstrar que esse circuito pode ser manipulado de forma tão específica em relação à música abre as portas para muitas possíveis aplicações futuras nas quais o sistema de recompensa pode precisar estar mais ou menos ativado," concluiu Zatorre.

Os resultados foram publicados na revista Nature Human Behaviour.

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