15/07/2009

Fiocruz traça mapa da migração mundial da dengue tipo 3

Marcelo Garcia
Fiocruz traça mapa da migração mundial da dengue tipo 3
Conhecer o perfil migratório do vírus da dengue é importante na definição de estratégias de combate à doença. Acima, imagem em microscopia do vírus produzida pela pesquisadora Monika Barth.
[Imagem: Instituto Oswaldo Cruz]

Mapa-múndi do vírus

Pesquisa realizada no Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) traçou a dispersão do vírus dengue sorotipo 3 (DENV-3) ao redor do mundo nos últimos 50 anos. O trabalho é a mais completa análise sobre os aspectos filogenéticos, migratórios e evolutivos do DENV-3 já realizada no mundo.

Uma das principais conclusões permitiu estimar o ano de origem das linhagens do DENV-3 no planeta: foi em torno de 1890. Já o surgimento da atual diversidade dos principais genótipos do DENV-3 foi estimado entre 1960-1970, coincidindo com o crescimento da população humana, urbanização e movimento humano.

Padrões de migração

Atualmente existem cinco genótipos diferentes do sorotipo 3 do vírus, cada um deles predominante em regiões específicas. Para explicar como cada um destes genótipos se tornou predominante em diferentes locais, os pesquisadores partiram da análise de amostras do sorotipo 3 do vírus dengue obtidas no Brasil - onde circula desde o ano 2000 - e de sequências genéticas dos vírus que circulam em todo o mundo desde 1956, disponíveis em bancos de dados internacionais. Assim, foi possível estimar as taxas de evolução molecular, o ano de origem das atuais linhagens virais e os perfis migratórios das variantes do DENV-3 ao redor do mundo.

"A análise das amostras provenientes de quatro continentes permitiu mostrar, pela primeira vez, por quais rotas cada um dos cinco genótipos do sorotipo 3 se espalhou pelo mundo", avalia o especialista. "No Brasil e no continente americano, assim como em parte da Ásia e no leste da África, predomina o genótipo 3 desse sorotipo. Sua entrada se deu a partir do México, de onde se espalhou para outros países da América Central e do Sul. Já o genótipo 1 circula principalmente na porção marítima do Sudeste Asiático e no Sul do Pacífico, enquanto o genótipo 2 permaneceu dentro das zonas continentais do Sudeste Asiático."

Perfil migratório do vírus

Conhecer o perfil migratório do vírus da dengue é importante na definição de estratégias de combate à doença. "Entender como se dá a dispersão do vírus pode permitir adotar medidas de vigilância epidemiológica mais eficientes e atuar diretamente nas localidades que são focos deste processo", argumenta Josélio. "Nosso maior desafio agora é conhecer a dinâmica de circulação dos vírus no Brasil, o que pode ser fundamental para dificultar sua disseminação e contribuir para a redução do número de casos no país."

O pesquisador destaca outro resultado importante da pesquisa: foi identificada uma tendência de que apenas um genótipo do DENV-3 circule em cada região. "É rara a circulação de mais de um genótipo em nenhuma localidade. Esta constatação sugere que alguns fatores, como a adaptação do DENV-3 ao vetor ou à população de determinada região, além da distância geográfica, podem limitar a introdução de novas variantes do sorotipo três do vírus no local", explica Josélio. "Esse fato é relevante para o estudo da dinâmica da doença, pois alguns genótipos são mais virulentos que outros e os vírus estão em constante evolução."

Evolução Molecular

O estudo também analisou com que velocidade o vírus evolui geneticamente na natureza. Os resultados revelaram que a média da taxa de evolução em regiões que sofreram epidemias de dengue desde a década de 70, como Indonésia e Tailândia, por exemplo, foi semelhante ao observado em regiões que presenciam estas epidemias desde a década de 90, que é o caso das Américas.

Uma análise adicional revelou que a estimativa do ano de origem das linhagens do DENV-3 foi em torno de 1890. A atual diversidade dos principais genótipos do DENV-3 foi estimado entre 1960-1970, período que coincide com o crescimento da população humana e do processo de urbanização.

Os cientistas

O estudo, que determinou pela primeira vez o perfil migratório do DENV-3, é fruto do trabalho desenvolvido pelo pesquisador Josélio Araújo, no Laboratório de Flavivírus do IOC, durante seu doutorado, sob orientação dos pesquisadores Hermann Schatzmayr e Rita Nogueira, chefe do laboratório.

A pesquisa, publicado no periódico Infection, Genetics and Evolution, contou com a colaboração de importantes especialistas na área de evolução viral, como os pesquisadores Gonzalo Bello, do Laboratório de Aids e Imunologia Molecular do IOC, e Paolo Zanotto, da Universidade de São Paulo.

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