20/08/2013

Fármaco brasileiro mostra bons resultados contra anemia falciforme

Com informações da Agência Fapesp
Fármaco brasileiro mostra bons resultados contra anemia falciforme
No destaque em verde, hemácia normal; a seta vermelha indica uma hemácia falciforme
[Imagem: Jean Leandro dos Santos]

Um fármaco desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp) para aliviar os sintomas da anemia falciforme une os benefícios da talidomida e do quimioterápico hidroxiureia - já usado no tratamento crônico da doença - sem apresentar os efeitos tóxicos das drogas originais.

A molécula, patenteada com o nome Lapdesf1, mostrou bons resultados em ensaios com camundongos feitos na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Os cientistas das duas instituições buscam agora parceria com a indústria farmacêutica para a realização dos primeiros testes em humanos.

"A pesquisa representa um avanço para o tratamento da anemia falciforme, considerada uma doença extremamente negligenciada, e ajudará a diminuir vários sintomas presentes nos pacientes, como dor e inflamação", disse o pesquisador da Unesp de Araraquara Jean Leandro dos Santos, um dos idealizadores do novo medicamento.

Lado bom de duas drogas problemáticas

A doença é causada por uma alteração genética na hemoglobina, proteína presente nas hemácias, os glóbulos vermelhos do sangue.

A hidroxiureia é hoje uma das drogas mais usadas no tratamento da anemia falciforme por ser capaz de aumentar a produção de um outro tipo de hemoglobina, conhecida como hemoglobina fetal (mais presente no período de vida uterina).

Como qualquer quimioterápico, porém, a hidroxiureia apresenta efeitos adversos. Além de causar náuseas, dores abdominais e de cabeça, tonturas, sonolência e convulsões, pode ainda diminuir a produção de células da medula óssea. Também pode afetar as células reprodutivas e levar à infertilidade.

Já a talidomida, inicialmente usada como sedativo e antiemético (contra náuseas), foi retirada do mercado em todo o mundo nos anos 1960 depois de provocar uma epidemia de recém-nascidos com malformações. Foi posteriormente reintroduzida nos anos 1990 para tratamento de câncer, hanseníase, lúpus e AIDS.

De acordo com Santos, no caso da anemia falciforme, a talidomida é interessante por seus efeitos anti-inflamatórios.

O que os pesquisadores brasileiros fizeram agora foi unir os benefícios das duas drogas.

"Nós aproveitamos da talidomida a subunidade responsável pelos efeitos anti-inflamatórios benéficos e acrescentamos à molécula o mecanismo de ação da hidroxiureia, relacionado à capacidade de doar óxido nítrico - mediador responsável pelo aumento da hemoglobina fetal. Nos ensaios de toxicidade feitos até o momento, o Lapdesf1 não apresentou nenhum dos efeitos negativos dos fármacos originais", disse.

Anemia falciforme

A anemia falciforme é uma das doenças hereditárias mais prevalentes no Brasil e estima-se que existam mais de 50 mil afetados.

Comum em populações afrodescendentes, é causada por uma alteração genética na hemoglobina, proteína presente nas hemácias - glóbulos vermelhos do sangue - que ajuda no transporte do oxigênio.

A mutação faz com que as hemácias assumam a forma de foice depois que o oxigênio é liberado aos tecidos. Em baixas tensões de oxigênio, as células se tornam deformadas, rígidas e propensas a se agregarem, ou seja, a formar uma massa celular que adere ao endotélio e dificulta a circulação sanguínea - processo conhecido como vaso-oclusão.

Além de inflamação crônica, o processo vaso-oclusivo pode causar necrose em vários tecidos e crises de dor intensa. É comum o aparecimento de úlceras nas pernas, descolamento de retina, priapismo (ereções prolongadas e dolorosas), acidente vascular cerebral, infartos, insuficiência renal e pulmonar. A doença também compromete os ossos, as articulações e tende a se agravar com o passar dos anos, reduzindo a expectativa de vida dos portadores.

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