25/09/2007

Efeitos da ventilação mecânica podem ser controlados com droga antiinflamatória

Fábio de Castro - Agência Fapesp

Uso preventivo de droga antiinflamatória

Uma pesquisa realizada na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) mostrou que o uso preventivo de uma droga antiinflamatória pode proteger os pulmões das graves seqüelas deixadas pela ventilação mecânica - método amplamente utilizado após cirurgias e em diversos casos de doenças pulmonares.

O estudo, segundo o coordenador Itamar de Oliveira-Júnior, do Departamento de Medicina, avaliou os efeitos antiinflamatórios da pentoxifilina em uma situação clínica específica que geralmente leva à síndrome de aspiração do conteúdo gástrico que, por sua vez, causa a síndrome do desconforto respiratório.

Refluxo gástrico

Ao desentubar um paciente que passou por processo cirúrgico, freqüentemente ocorre um refluxo gástrico que atinge os pulmões, causando lesões e comprometendo a respiração. Para restabelecer a oxigenação dos tecidos, utiliza-se a ventilação mecânica.

"O problema da ventilação mecânica é que ela melhora a oxigenação, mas não protege o pulmão, causando danos nos tecidos e levando a um processo inflamatório. Isso provoca um efeito cascata em todo o organismo. É o que se conhece como falência múltipla de órgãos", disse Oliveira-Júnior à Agência FAPESP.

Os pesquisadores utilizaram modelos animais para estudar como os efeitos da pentoxifilina podem deter o processo inflamatório. No início de setembro, o trabalho recebeu o prêmio Travel Award do Congresso da Sociedade Internacional de Biologia e Medicina de Radicais Livres. Em outubro, o estudo será publicado na revista brasileira Clinics e na espanhola Archivos de Bronconeumología.

Experimento

Segundo Oliveira-Júnior, foi utilizado ácido clorídrico para induzir lesões pulmonares em quatro grupos de ratos, simulando a situação de um paciente com síndrome de aspiração do conteúdo gástrico.

Um grupo recebeu apenas ventilação mecânica. O segundo, ácido clorídrico e ventilação. Um terceiro recebeu ácido, pentoxicilina e ventilação. Ao último grupo foi dada a pentoxicilina previamente e, em seguida, ácido e ventilação mecânica.

"O quarto grupo teve uma proteção fantástica contra a cascata inflamatória. A droga protegeu o pulmão dos animais contra os mediadores inflamatórios e não apenas diminuiu o dano corrosivo do ácido como melhorou a oxigenação do animal", disse o pesquisador.

Extrato de uva

O estudo indicou uma solução promissora para a proteção de pacientes que serão submetidos a cirurgia. "Os resultados são animadores e a droga funcionou muito bem usada preventivamente. Agora, vamos estudar outras variáveis, considerando a doença de base do paciente para avaliar outras alternativas de drogas", disse.

A pentoxifilina é utilizada freqüentemente para pacientes com problemas circulatórios. A droga tem a propriedade de mudar a forma das hemácias e de proporcionar dilatação alveolar, reduzindo os mediadores inflamatórios.

"Queremos trabalhar com outras drogas e fitoterápicos para saber até que ponto eles bloqueiam a cascata inflamatória. Uma das alternativas será o uso de extrato de uva para tentar diminuir o estresse oxidativo", disse.

Pressão inibe efeito antiinflamatório

Na pesquisa, a equipe também constatou que os animais que foram submetidos à ação do ácido clorídrico e à ventilação mecânica apresentaram concentração menor de corticosterona nos pulmões. A substância, semelhante ao cortisol em humanos, é um bloqueador de mediador inflamatório.

"A corticosterona reduz o processo inflamatório, mas, no pulmão, ela quase não tem efeito, porque o ventilador mecânico faz uma pressão que não permite a ação antiinflamatória. Por outro lado, a alta concentração da droga na circulação aumenta o mediador inflamatório, levando o processo de inflamação à cronicidade e atingindo outros órgãos", explicou.

Efeitos da ventilação mecânica

Todos os problemas causados pela ventilação mecânica se tornam muito mais graves em pacientes idosos. Por isso, a equipe da Unifesp iniciou, em julho, um novo estudo para comparar a resposta inflamatória entre animais adultos e idosos submetidos à ventilação mecânica. O projeto, que deverá ser concluído em junho de 2009, tem apoio da FAPESP na modalidade auxílio a pesquisa.

"O volume de oxigênio aplicado no paciente é proporcional ao peso, desconsiderando a faixa etária. Achamos que isso precisa ser mudado. A caixa toráxica e os alvéolos do idoso não se expandem como ocorre no adulto e os efeitos da ventilação são ainda mais graves", disse Oliveira-Júnior.

Ações preventivas

Além dos pacientes que saíram de processo cirúrgico, a ventilação mecânica é utilizada em pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica, asma grave ou enfisema pulmonar, por exemplo. "Queremos encontrar ações preventivas viáveis, já que não há alternativas para o processo de ventilação mecânica", afirmou.

Segundo Oliveira-Júnior a maior parte dos idosos, principalmente os que moram em grandes centros, tem algum tipo de infecção crônica. "Quando uma pessoa nessas condições entra em um centro cirúrgico, não há dúvida de que ela sairá de lá um pouco pior do que antes. Sabemos que não podemos ventilar o idoso da mesma forma que um adulto ou criança. Por isso, precisamos criar um processo protetor", disse.

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