18/10/2016

Educação sexual nas escolas é científica demais e fria, dizem alunos

Redação do Diário da Saúde

Professores constrangidos

As notícias não são boas para a educação sexual ministrada nas escolas.

Segundo os estudantes, a educação escolar sobre sexo é frequentemente negativa, heterossexista, fria e ensinada por professores constrangidos e mal treinados.

Esta é a conclusão geral de 55 pesquisas qualitativas que exploraram os pontos de vista e as experiências de jovens que receberam educação sexual e sobre relacionamentos em escolas da Austrália, Brasil, Canadá, EUA, Irã, Irlanda, Japão, Nova Zelândia, Reino Unido e Suécia, entre os anos de 1990 e 2015.

A maioria dos participantes tinha idades entre 12 e 18 anos.

Desserviço

"O fracasso das escolas de reconhecer que a educação sexual é um assunto especial com desafios únicos está fazendo um grande desserviço para os jovens, e desperdiçando uma oportunidade fundamental para salvaguardar e melhorar a saúde sexual," concluem Pandora Pound, Rebecca Langford e Rona Campbell, da Universidade de Bristol (Reino Unido).

Elas sintetizaram o feedback dos estudantes e constataram que, apesar do amplo alcance geográfico dos estudos, os pontos de vista dos jovens foram notavelmente consistentes ao redor do mundo.

Sexo como problema

Dois grandes temas emergiram para explicar a maioria dos dados.

O primeiro é que as escolas têm falhado em reconhecer a natureza específica e desafiadora da educação sobre sexo e relacionamentos, em sua maior parte preferindo abordá-la exatamente da mesma forma que outros assuntos, dizem as pesquisadoras.

Nas classes mistas, com homens e mulheres, os mais jovens relataram humilhação por não serem sexualmente experientes e afirmaram ter mascarado suas ansiedades. Já as meninas se sentiram julgadas e perseguidas.

Os jovens também criticaram a abordagem excessivamente "científica" do sexo, ignorando o prazer e o desejo, afirmando que o sexo foi muitas vezes apresentado como um "problema" a ser gerido. Estereótipos também são comuns, com as mulheres representadas como passivas, os homens como predadores, e pouca ou nenhuma discussão sobre gays, bissexuais ou transgêneros.

Tudo errado?

O segundo tema principal foi que as escolas parecem achar difícil aceitar que alguns de seus alunos são sexualmente ativos, apresentando um conteúdo fora de contato com a realidade de vida de muitos jovens e uma consequente incapacidade de discutir questões relevantes para eles, dizem as pesquisadoras.

Isto ficou evidente na percepção dos jovens quanto a uma ênfase na abstinência; moralizante; e uma falha em reconhecer toda a gama de atividades sexuais nas quais eles se envolvem. Muitos alunos também afirmaram que a educação sexual na escola veio tarde demais.

Também foi detectada uma falha no fornecimento de informações úteis e práticas, como a disponibilidade de serviços de saúde da comunidade, o que fazer no caso de uma gravidez, os prós e os contras de diferentes métodos de contracepção, e as emoções que podem acompanhar as relações sexuais.

Os jovens também não gostam de ter seus professores envolvidos com a educação sobre sexo e relacionamentos, tanto porque eles sentiram que seus professores estavam mal formados e com vergonha, como também por causa do potencial de que isto possa perturbar as relações professor-aluno e induzir uma quebra de confiança.

Assunto especial

"As escolas devem reconhecer que o sexo é um assunto especial com desafios únicos, assim como o fato e a gama de atividades sexuais dos jovens, caso contrário, continuarão desconectadas da educação sexual e reduzirão as oportunidades para preservar e melhorar a saúde sexual dos alunos," concluem as pesquisadoras.

Os resultados foram publicados na revista BMJ Open.

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