06/01/2009

Doenças mentais podem ser evitadas com ações para crianças e adolescentes

Valéria Dias - Agência USP

Psiquiatria do desenvolvimento

Prevenir o aparecimento de doenças mentais em adultos a partir de ações dirigidas à infância e adolescência. É com este objetivo que está sendo criado o Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento para Crianças e Adolescentes, coordenado pelo professor Eurípedes Constantino Miguel, da Faculdade de Medicina (FMUSP) da USP.

De acordo com o professor, trata-se de uma iniciativa pioneira, pois traz uma nova abordagem para a área: a psiquiatria do desenvolvimento. "Várias pesquisas apontam que a origem de grande parte dos transtornos mentais que se manifestam na idade adulta está na infância. Então, nosso objetivo é desenvolver uma série de estudos enfocando a detecção precoce e o tratamento de crianças e adolescentes com risco para o desenvolvimento de transtornos psiquiátricos, mas antes de a doença se manifestar", explica.

Transtornos mentais

Entre os transtorno mentais envolvidos no projeto estão: transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno de conduta, transtorno de ansiedade, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno do humor bipolar, autismo e transtorno de aprendizagem, entre outras.

Além do Instituto de Psiquiatria (IPq) da FMUSP, também estão envolvidas as Universidades Federais: de São Paulo (UNIFESP), do Rio Grande do Sul (UFRGS), da Bahia (UFBA), de Pernambuco (UFPE), do Rio de Janeiro (UFRJ), a Universidade Presbiteriana Mackenzie, a Federal de Santa Maria, a Universidade Metodista (Rio Grande do Sul), e a Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).

Importantes centros de pesquisa internacionais, como as universidades de Yale, Harvard, Duke, de Nova Iorque, do Texas, John Hopkins, da Califórnia em San Diego (UCSD), da Califórnia em Los Angeles (UCLA) e o Instituto de Psiquiatria de Londres, também irão colaborar com os pesquisadores brasileiros.

A iniciativa integra o Programa Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia, do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT), que reúne 101 institutos nacionais e que visam o desenvolvimento de tecnologia e pesquisa de ponta em várias áreas do conhecimento.

Treinamento dos pais e Yoga

O professor destaca que um dos pioneirismos do Instituto será o uso de intervenções já bem estabelecidas como a terapia cognitivo-comportamental, destacando-se a ênfase no treinamento dos pais.

O projeto também prevê a investigação de terapias alternativas e não invasivas, como a Kundalini Yoga (ou ioga). "Há estudos sugerindo a eficácia dessa técnica no tratamento de transtornos mentais. Pelo seu caráter não invasivo, acreditamos que valeria a pena testá-la utilizando métodos adequados", afirma.

Desde antes de nascer

Outro enfoque será um estudo de coorte (acompanhamento) que analisará 600 novas crianças por ano. Este estudo começará investigando gestantes na décima semana de gravidez, até o nascimento de cada criança. Estas serão acompanhadas com avaliações sucessivas que procurarão descrever características clínicas que possam ser preditivas para um futuro desenvolvimento de transtornos psiquiátricos.

"Acreditamos que este estudo poderá identificar fatores genéticos e ambientais que conferem risco para o desenvolvimento desses transtornos. De posse, por exemplo, das informações genéticas, será possível desenvolver intervenções ambientais específicas para aquelas pessoas que possuem um risco aumentado, de modo a reduzir as chances de expressão da doença", informa o pesquisador.

Disseminação do conhecimento via Internet

O Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento para Crianças e Adolescentes estará ligado à Rede Nacional de Telemedicina (Rede Nutes). "A idéia é criar vários pontos de acesso a web, onde poderemos levar educação a distância e formação continuada para os novos psiquiatras sob o paradigma da Psiquiatria do Desenvolvimento. Já existem 900 pontos espalhados pelo Brasil. Em cerca de dois anos, haverá aproximadamente 9 mil pontos."

Prontuário médico eletrônico

Outro destaque é a implantação de um prontuário médico eletrônico em colaboração com a Universidade Duke. Com a adaptação do prontuário para a realidade brasileira, será possível criar um banco de dados nacional sobre transtornos mentais, facilitando a implantação de políticas públicas, bem como a comparação entre os diversos tipos de tratamento, entre outras possibilidades.

"O Instituto Nacional de Psiquiatria do Desenvolvimento inova ao enfatizar a promoção da saúde mental ao invés do clássico foco na pessoa doente. A partir de um conjunto coeso e sólido de iniciativas e projetos de pesquisa, procura atingir dois grandes objetivos jamais alcançados na área de saúde mental no Brasil: introduzir ferramentas e métodos para promover o desenvolvimento saudável da criança e do adolescente, além de colocar a Psiquiatria Brasileira em concordância com o mais moderno referencial de trabalho dos mais avançados centros internacionais de saúde mental. Todas estas ações deverão diminuir estigma associado à doença psiquiátrica", aponta o professor.

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