07/08/2009

Cursos de nutrição não preparam para lidar com transtornos alimentares

Beatriz Flausino - Agência USP
Cursos de nutrição não preparam para lidar com transtornos alimentares
Nutricionistas consideram a graduação em nutrição insuficiente para tratar doenças como bulimia e anorexia.
[Imagem: USP]

Tratamento de transtornos alimentares

A graduação em nutrição não dá a formação necessária para o tratamento de transtornos alimentares. Este é o pensamento de boa parte de um grupo de nutricionistas entrevistados na pesquisa O perfil e a atuação do nutricionista no tratamento dos transtornos alimentares, desenvolvida na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP por Marina Garcia Manochio.

Marina trabalha com transtornos alimentares, como bulimia (ingestão de grande quantidade de alimentos seguida de indução de vômito) e anorexia (medo intenso de engordar, com grande perda de peso). Ela entrevistou nutricionistas com idade entre 29 e 52 anos, a maioria mulheres.

Além disso, todos os entrevistados fizeram algum tipo de especialização na área, pois "sentiram que a graduação não foi suficiente", explica a pesquisadora. Uma das entrevistadas no estudo afirmou: "Eu acho que a formação [...] não acontece, não temos formação para isso".

Problemas dos cursos de nutrição

Marina fez um estudo qualitativo e entrevistou profissionais das Regiões Sul e Sudeste. "Escolhi essas regiões porque nelas se concentram os serviços especializados no tratamento de transtornos alimentares".

Quanto à formação, a maior queixa dos profissionais é que os cursos de nutrição não fornecem uma formação voltada para o atendimento a pacientes, eles classificam o curso como "mecanicista" e "voltado para a questão prática". Todos concordam também que seria preciso um aprofundamento na área de psicologia abordada pelo curso, como explicou à pesquisadora um dos nutricionistas entrevistados: "o nutricionista devia aprender muito mais psicologia, mais psicoterapia, aprender a ter essa escuta, que não temos [...] saímos do curso muito técnicos".

Segundo os entrevistados, o nutricionista que trabalha nesta área, além de embasamento teórico e prático, necessita desempenhar outras habilidades, como saber ouvir e acolher e ser firme em suas condutas. A psicoterapia foi pontuada pela maioria como algo que possibilita ao profissional ser mais aberto e acolhedor. O nutricionista também precisa saber lidar com frustração e impotência, sentimentos que geralmente emergem nesta atuação.

Relação com os alimentos

O papel do nutricionista no tratamento, como explica Marina, é "mudar a relação desse paciente com os alimentos". Um dos entrevistados afirmou que o ganho de peso não está em primeiro plano, e que é mais crucial fazer com que o paciente tenha um bom padrão alimentar bom e equilibrado, comendo de tudo.

A pesquisadora conseguiu perceber uma linha geral no tratamento feito pelos profissionais entrevistados. Os profissionais afirmaram que a primeira aproximação vai ao sentido de descobrir o histórico do paciente, o que levou ao transtorno "primeiramente fazer uma análise geral do paciente, tentar se aproximar, o que é muito difícil no começo".

Todos usam o diário alimentar, em que o paciente escreve o que comeu em três dias da semana, escolhidos por ele e diz o que sentiu ao comer, se ele sentia fome e se saciou a fome. Outro ponto importante do tratamento é a abordagem da família, os nutricionistas opinam que "quando o paciente adoece, a família também precisa de tratamento. A maioria dessas famílias é desestruturada".

Recaída

Os entrevistados consideram, também, que a família está relacionada com a recaída do paciente de transtornos alimentares. "Segundo eles, o que favorece a recaída é uma família que não adere e um paciente que não está aberto ao tratamento", diz Marina.

Ela afirma, também, que há muito poucos estudos sobre a recaída. "Mais ou menos 50% dos casos têm recaída, mas há pouca informação sobre isso". Além disso, ela afirma que há poucas informações sobre a conclusão dos tratamentos de transtornos alimentares no Brasil. "Creio que seja necessário que os serviços de saúde façam pesquisas para podermos obter esses dados". O trabalho de Marina foi orientado pela professora Rosane Pilot Pessa Ribeiro, da EERP.

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