30/08/2017

Cocaína na adolescência é mais prejudicial que na vida adulta

Com informações da Agência Fapesp

Quanto mais jovem, pior

Pesquisadores da Faculdade de Medicina da USP demonstraram de forma objetiva algo que especialistas em neurociências já suspeitavam: pessoas que começam a usar cocaína durante a adolescência desenvolvem défices cognitivos mais significativos do que quem inicia o consumo da droga na vida adulta.

Foram detectadas diferenças marcantes principalmente em habilidades como atenção sustentada (requerida para a realização de tarefas longas, como o preenchimento de um questionário), memória de trabalho (necessária para o cumprimento de ações específicas, como a de um garçom que precisa gravar o pedido de cada uma das mesas até o momento de entregar o prato corretamente) e memória declarativa (que corresponde ao armazenamento e recuperação de dados após um período de intervalo).

Além disso, no grupo de usuários com início precoce foi 50% mais frequente o consumo concomitante de maconha e 30% de álcool, quando comparado com dependentes que iniciaram o uso da droga depois dos 18 anos.

"A adolescência é considerada uma das etapas cruciais do desenvolvimento cerebral, quando o excesso de sinapses é eliminado e as estruturas essenciais para a vida adulta são selecionadas e refinadas. O uso de drogas nesse momento pode atrapalhar o processo de programação do cérebro e fazer com que conexões importantes sejam perdidas," comentou o professor Paulo Jannuzzi Cunha, coordenador do projeto.

Estudo

Um dos diferenciais deste estudo foi medir os impactos cognitivos comparando dois grupos de dependentes que estavam sob uma condição de abstinência controlada.

"Muitos estudos deste tipo avaliam indivíduos em ambulatório, sem a certeza de que, ao chegar em casa, eles não farão uso da droga. No nosso caso, porém, todos os participantes estavam internados. Assim, temos a certeza de que os achados não estão relacionados aos efeitos agudos da cocaína ou de outras substâncias," explicou o pesquisador.

Foram incluídos na amostra 103 pacientes dependentes de cocaína - 52 deles no grupo de usuários com início precoce (antes de 18 anos) e 51 no grupo com início tardio (após 18 anos). A faixa etária dos participantes variou de 20 a 35 anos e a proporção de homens e mulheres foi semelhante. Entre os dependentes com início precoce destaca-se um participante que faz uso de cocaína desde os 12 anos. Um terceiro grupo de controle tinha 63 pessoas não usuárias de substâncias psicoativas.

Para o pesquisador, os resultados mostram ainda que os pacientes mais graves, ou seja, com déficits cognitivos mais acentuados, necessitam de tratamento mais intensivo e multidisciplinar, com a associação de terapia e medicamentos.

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