20/06/2008

Apnéia, além de atrapalhar o sono, causa perda de memória

Agência Fapesp

Apnéia obstrutiva

Pessoas com apnéia obstrutiva do sono têm perda de tecido em regiões no cérebro que auxiliam no processo de armazenamento da memória.

A afirmação é de um estudo feito por cientistas da Universidade da Califórnia em Los Angeles, nos Estados Unidos, que estará na edição de 27 de junho da revista Neuroscience Letters.

Distúrbio respiratório

Segundo os autores, o resultado da pesquisa enfatiza a importância de que o distúrbio respiratório seja detectado o mais cedo possível. Estima-se que o problema atinja cerca de 20 milhões de pessoas nos Estados Unidos - e pelo menos 8 milhões no Brasil.

A apnéia do sono ocorre quando uma via respiratória é bloqueada subitamente e interrompe a respiração, resultando em episódios de roncos altos e de fadiga crônica durante o dia. Maior risco de derrame, doenças coronárias e diabetes também foram relacionados ao problema em estudos anteriores.

Danos cerebrais sérios

"Os resultados demonstram que a respiração dificultada durante o sono pode levar a danos cerebrais sérios, com prejuízos para a memória e para o raciocínio", disse o principal autor do estudo, Ronald Harper, professor de neurobiologia da Escola de Medicina David Geffen da UCLA.

Os pesquisadores se voltaram à análise de estruturas cerebrais conhecidas como corpos mamilares - assim chamados por lembrarem pequenas mamas -, que fazem parte do sistema límbico e estão envolvidos com o processamento da memória.

Corpos mamilares

O grupo de Harper escaneou os cérebros de 43 portadores de apnéia do sono, por meio de ressonância magnética, de modo a coletar imagens em alta resolução de todo o órgão, inclusive com detalhes dos corpos mamilares.

O pequeno tamanho das estruturas e sua proximidade de ossos e fluidos dificultaram a obtenção de imagens de modo convencional. Por conta disso, os pesquisadores buscaram manualmente os corpos mamilares nas imagens em alta resolução e calcularam os volumes a partir de seus contornos.

Ao comparar os resultados com imagens de 66 pessoas do grupo controle, não portadoras do distúrbio, os cientistas verificaram que aquelas que sofriam de apnéia tinham corpos mamilares cerca de 20% menores, especialmente no lado esquerdo do cérebro.

Problemas de memória persistentes

"Os resultados são ainda mais importantes porque pacientes que sofrem de perda de memória por conta de outras síndromes, como Alzheimer ou alcoolismo, também apresentam diminuição nos corpos mamilares", salientou Rajesh Kumar, outro autor do estudo.

Outro ponto importante destacado pelos autores é que os problemas de memória continuam mesmo após os pacientes terem tratado a apnéia do sono, o que ressaltaria a gravidade dos danos.

Inflamação no cérebro

Na próxima fase do estudo, os pesquisadores da UCLA pretendem investigar como a apnéia obstrutiva do sono causa a perda de tecido nos corpos mamilares.

Uma hipótese, segundo Harper, seriam as quedas repetidas nos níveis de oxigênio. Durante um episódio de apnéia do sono, as vasos sangüíneos no cérebro se contraem, diminuindo o oxigênio nos tecidos e levando à morte celular. O processo também estimula a inflamação, que provoca mais danos ao tecido.

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